sexta-feira, 21 de junho de 2013

Breves notas sobre a manifestação em Manaus: Carnaval ou Mobilização democrática


      Vi um movimento em celebração estranha, vi um movimento em disputa, vi um movimento que é vencedor na afirmação da liberdade de expressão, mas vi igualmente um movimento com futuro incerto. 

      No calor do movimento em alguns momentos me sentia bem, outras vezes me sentia estranho, como que participando de um “oba, oba”, como se estivesse no carnaval, com muita celebração, fotos, risos e tudo mais.. Fato é que as emoções mudaram durante a “marcha” significando sempre novas percepções. Me vi em uma cena histórica, orgulhoso e entusiasmado com as possibilidades de mudança, com a reinvenção da democracia, ao mesmo tempo que não me sentia as vezes muito confortável com certos discursos, críticas e desejos ao meu redor; algo que para alem do celebração da marcha em si indicava futilidades e pouca consciência do aquilo significava, mas é claro todos afirmam que as fotos serviriam “para mostrar para os filhos no futuro”, uma espécie de projeção no tempo onde a nostalgia emergia com muita força. 

     Fato é que me sentia pertencido ao movimento alguns momentos e outros não, talvez o deslocamento no meio da multidão me fizesse perceber uma multiplicidade de interesses, vozes e discursos que ora me inspiram sentimentos positivos aos quais eu me identificava e em outros momentos me deixava preocupado; discursos vazios, coros sem sentido, posicionamentos niilistas ( sim, em meio ao movimento! ) que simplesmente eram contra tudo, a tudo negavam e queriam simplesmente evidenciar isso.

     Vi pouquíssimos partidários e menos inda bandeiras. Vi algumas lideranças, na verdade diversas, mas eram lideranças que capitaneavam apenas pequenos grupos dentro do movimentos maior disputando coros, direcionamentos e o lugar de seus cartazes. Não que isso seja negativo, na verdade essa fragmentação possui uma riqueza ambivalente em seus desdobramentos, não dá para emitir palpites, o movimento prossegue inacabado e espero que assim continue, se acabar é porque se venceu a luta e se conquistou o que se pretendia ou simplesmente o movimento capitulou diante das concessões do constitucionalismo e das “regras” do regime democrático.

      Uma observação para finalizar esse comentário de uma noite de insônia. A Mídia e as forças tradicionais estão fechando o cerco no sentido de capturar a mais-valia simbólica do movimento, instrumentalizando e mercantilizando sua produção coletiva difusa. A celebração plural da democracia no movimento em Manaus foi espetacular, histórica, mas há que avaliar sua expressão contestatória face a celebração como um fim em si mesmo. Espero que os diversos grupos, coletivos, movimentos e lideranças afins reflitam após essa "marcha" e definam novas horizontes de luta, afirmem uma agenda concreta de ações e reivindicações.
      O movimento maior está em disputa e é preciso conjugar idéias e ações nesse momento, sob o risco de todos capitularem diante da malícia e do oportunismo de "operações de circulação sistêmica" por parte de forças vis e conservadoras. Não podemos atuar no vazio, urge a necessidade de diálogos e comunicação propositiva no interior do movimento!

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