domingo, 3 de maio de 2015

Por que Socialismo? Notas para início de conversa.


Ofereço aos trabalhadores e as classes subalternas em geral uma pequena reflexão sobre a razão e a necessidade do Socialismo hoje. Um contributo inicial também para a reflexão dos primeiros construtores da UP Amazonas.

Por que socialismo? Por que não vivemos “o fim da história”, e a economia de mercado juntamente com democracia liberal estão em crise ao redor do mundo;

Por que o Capitalismo não foi o primeiro e nem será o último modo de produção e civilização;

Por que o socialismo é muito maior que as poucas e precárias oportunidades históricas que teve para realizar-se; por que o socialismo é mais complexo, plural, libertário e democrático do que a vã filosofia de direita pode sugerir;

Por que vivemos um cenário de crise sistêmica, onde várias crises convergem e as interpretações sobre essas crises e a produção dos “remédios” para solucioná-las são objetos de disputa e nós que queremos participar dessa interpretação e das soluções para os problemas que nos afligem. Não podemos deixar que as forças conservadoras e reacionárias apresentem soluções socialmente excludentes/indiferentes (fascistas), ambientalmente predatórias, economicamente falsas (deslocando o problema no espaço-tempo) e politicamente corporativistas;

Por que em se tratando de política não existe espaço vazio e esse espaço tem sido ocupado sobretudo por forças conservadoras e velhos políticos sem compromisso com as necessidades reais da população;

Por que queremos justiça social, Liberdade de fato, democracia sem limites e o fim da exploração;

Por que o socialismo é muita mais amplo e complexo que as concepções particulares e partidárias que tentam simplificá-lo, desqualificá-lo, diminui-lo etc..;

Por que outras formas de vida e trabalho são possíveis;

Por que outras relações entre homens e destes com a natureza são necessárias, na verdade urgentes;

Por que direitos formais resultam em liberdades formais, seletivas e excludentes e não liberdade da substantiva para maioria ;

Por que uma sociedade mais justa, livre e democrática é um imperativo urgente para uma civilização de fato;

Por que não devemos nos abster das lutas de nosso tempo!;

Por que não somos obrigados a participar de lutas e resistências através de movimentos ou partidos com os quais não temos afinidades ou que oferecem pouco espaço de diálogo para novos integrantes;

Por que toda construção representa um processo de politização, expressa um momento de problematização da realidade e da desnaturalização de seus problemas;

Por que um partido novo traz consigo os anseios, aspirações, desejos, demandas e necessidades das novas gerações, atualizando ao mesmo tempo a reflexão sobre temas e problemas das gerações passadas;

Por que essa criação é uma oportunidade singular para estabelecer diálogos e definir agendas face aos problemas locais e regionais;

Por que o Socialismo representa em primeiro lugar a busca incansável para atender as necessidades reais da população como um todo, essa busca é o que dinamiza o socialismo;

Por que socialismo é também uma construção social cotidiana, um estilo de vida, um modo de conviver e socializar que antecipa os germes da sociedade democrática e justa do futuro. Ela começa aqui e agora!;

Por que o Socialismo não se constrói per se, é obra coletiva produzida por sujeitos históricos. Nós!;

Por que o Socialismo não representa o fim da liberdade, mas sua condição indispensável;

Por que o Socialismo não produz autoritarismos, antes, é um golpe em suas manifestações;

Por que o Socialismo é Democracia sem fim...;

Por que o socialismo não é socialização da pobreza, ao contrário, é distribuição da riqueza socialmente produzida, que atualmente é privatizada e fonte de privações, limitações à liberdade e produtora de pobrezas e desigualdades;

Por que o Socialismo se rebela contra a privilégios e não admite dominação política e expropriação econômica;

Por que o Socialismo não é contra a propriedade em geral, mas contra as as grandes propriedades socialmente improdutivas ou economicamente exploradoras. Estas devem ser de propriedade e usufruto coletivo!;

Por que o Socialismo é uma reflexão teórica comprometida com os processos e lutas de transformação social;

Porque o Socialismo é a reforma indispensável para uma sociedade de todos....
Por que outra economia é possível!;

Por que outra Amazônia é igualmente possível e urgente; por que nossas desigualdades são abissais, nossas pobrezas amplas e diversas, nossos problemas inadiáveis, nossas políticas perversas;

Por que não podemos ficar dependentes da ZFM, por que nossa riqueza é privatizada e expropriada, ficando um resíduo de 4% de tudo o que é produzido;

Por que a liberdade coletiva/democrática é a pré-condição para o livre desenvolvimento das liberdades individuais.

O Brasil é de primeiro mundo para quem? De Masi confunde o pensamento crítico com pessimismo.

                De Masi já foi mais feliz em seus comentários e mais preciso em suas respostas. Nesta entrevista1 muita coisa que ela fala é contestável. Comento aqui rapidamente alguns pontos

         "Crise é algo transitório", certamente que é, mas é preciso dizer que a crise é transitória em termos,  quando vista por exemplo de dentro dos espaços nacionais, mas tudo muda quando vista sob outro enfoque, pois o sistema capitalista em seu conjunto sempre está em crise e processo de reestruturação, nesse sentido a crise é um elemento estrutural e permanente do sistema. Como diria Harvey, as crises são momentos de reconfiguração dos termos da acumulação em decorrência da baixa taxa de lucratividade, "crises servem para racionalizar a irracionalidade do capitalismo" e elas nunca são resolvidas, apenas "deslocadas no tempo e no espaço".


Que riqueza mesmo que FHC criou?? Privatizações a preço de banana? Não vamos louvar eternamente a estabilização propiciada pelo plano real né..

Aumento do poder aquisitivo dos pobres não significa distribuição de riqueza! Bolsa família não significa distribuição de riqueza! Esses gastos saíram do orçamento anual do Estado, uma migalha por sinal. Distribuição de riqueza se faz alterando a estrutura agrária com a reforma agrária, se faz realizando reforma tributária de caráter progressivo, se faz com reforma política anulando o poder econômica sobre a política..

Acho que PIB não é e nunca foi o melhor indicador para medir o "desenvolvimento" de um país, especialmente os países que foram colonizados, sofreram o impacto do imperialismo e tiveram uma industrialização com pesados investimentos estrangeiros. E grande coisa sermos o quinto em produção industrial quando a maioria dos países "desenvolvidos" estão lucrando em cima da "propriedade intelectual" (patentes), quando o setor terciário já é muito mais lucrativos em diversos países e ocupa posição central na produção de riqueza e sem contar que a produção industrial já não emprega como nas décadas precedentes. E vale lembrar boa parte dessas "industrias" são de empresas multinacionais, sua pátria é outra, mandam seus lucros para suas matrizes e se elas estão no Brasil é porque houve um processo de desterritorialização do capital buscando pastos novos com mão de obra barata para explorar..

Essas louvações de "Brasil potência", "Brasil Maior" etc.. devem sempre ser relativizadas, se por um lado houve avanços nas últimas décadas em várias direções é sempre importante assinalar as limitações desses avanços e os retrocessos em outros campos.

O Brasil é de primeiro mundo para quem? De Masi confunde o pensamento crítico com pessimismo. Certamente o Brasil avançou, mas não vamos confundir alhos com bugalhos; bolsa família com distribuição de renda. Industria com qualidade de vida, PIB com Desenvolvimento, diminuição da pobreza com diminuição da desigualdade, exportação de commodities com soberania econômica. Isso é o que acontece quando se tenta "medir" ou comparar as transformações na América Latina a partir de parâmetros, modelos e trajetórias dos países Europeus. Não tem muita coisa de louvável em ascender nessa escala "evolucionista" rumo a um suposto desenvolvimento que hoje se mostra ilusório, visto que as grandes conquistas desses países hoje se encontram em desestruturação, cadê o pleno emprego e o Estado do bem-estar social, a eliminação da pobreza e da desigualdade? Estamos seguindo um modelo que já mostrou suas limitações, que destrói a natureza, não resolve o problema da concentração de poder e renda etc..