Sim.
Vivemos mais um momento de socialização da política, de politização da
sociedade e generalização de debates públicos. Essa socialização, contudo, é
permeada de contradições e ambivalências tanto quanto de experimentações,
incertezas e apostas de alto risco. Isto é, no curto prazo não necessariamente
pode ocorrer uma requalificação ou reinvenção da políticas em novos termos ou
com novos atores no sentido positivo de socialização da politica com
radicalização democrática e equacionamentos de problemas econômicos e sociais
pela via política. Ao contrário, devido uma politização mais à direita, de
coloração conservadora a esfera da política se amplia mas de maneira contraditória
e perigosa, podendo anular a própria natureza positiva da politica, caracterizada
por equacionar conflitos pelo firmamento de regras e pela administração de interesses divergentes
tendo em vista uma convivência que não se deteriore via confrontos, mas se revigore
via diálogo construtivo (marcado positivamente pelo dissenso )
Em
síntese, maior politização no sentido de democratização do debate público não
significa necessariamente uma socialização qualificada da política ou maior
democratização da sociedade. A maior democratização da sociedade passa
inelutavelmente pela democratização das estruturas de poder, pela demolição dos
processos de dominação política e
expropriação econômica. A atual dinâmica anti-política
e seu fortalecimento de ideais e programas conservadores, tendem - se não contrapostos- a converter a força das ruas não em poder
institucionalizado que socialize o poder, mas ao contrário, cria espaço,
crédito e legitimidade para forças e dinâmicas arbitrárias, seletivas e
excludentes que se apropriam e capturam o poder constituído para produção de um Estado
de Exceção e uma democracia de baixíssima intensidade
Como
diria Bessa, “nem tudo que reluz é moro”. A boa intenção em destituir uma
presidente crendo piamente que se vá equacionar a crise instalada , de um
lado, e de outro, a defesa intransigente
de um Brasil e uma nação para além das bandeiras e classes e na suposta defesa
do “interesse de todos” , podem colocar
- oferecendo legitimidade e sentimento popular -em marcha atos,
procedimentos e dinâmicas jurídicas, políticas, econômicas e sociais nada
democráticas no médio prazo.
A
pluralidade de vozes das ruas e sua potencia em termos de socialização da
política, repito, pode servir ao que Carlos Nelson Coutinho denominou de “apropriação não
social dos mecanismos de governo da sociedade”, significando a neutralização das políticas
transformadoras que as ruas podem produzir, implicando não no “predomínio da vontade geral, do
interesse público” expresso em políticas que se orientam pela justiça social e
eliminação das desigualdades, mas sim instalando um “óbice à plena afirmação da
democracia”, ao combate às desigualdades, a democracia econômica e a socialização
do poder.
A “pluralidade” das ruas pode em breve conduzir a uma unidade política conservadora que aproveita-se da conjuntura para controlar os aparelhos estatais, eleger “salvadores” e sob pretexto de “manter a ordem” e conseguir com urgência do crescimento econômico, intensificará o ajuste fiscal (austericídio ), a repressão das diversidades, bem como a criminalização dos movimentos sociais e destruição ecológica etc..
A “pluralidade” das ruas pode em breve conduzir a uma unidade política conservadora que aproveita-se da conjuntura para controlar os aparelhos estatais, eleger “salvadores” e sob pretexto de “manter a ordem” e conseguir com urgência do crescimento econômico, intensificará o ajuste fiscal (austericídio ), a repressão das diversidades, bem como a criminalização dos movimentos sociais e destruição ecológica etc..