sábado, 4 de julho de 2015

"Quem nos salvará dos salvadores?": Da Grécia ao Brasil

"Quem nos salvará dos salvadores?" perguntava Alan Badiou há alguns anos quando a Troika (formada por Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário internacional) sob o argumento de equacionar o problema da crise grega desferia um golpe a soberania e um assalto ao povo grego - via planos de austeridade -  tendo em vista salvar os bancos privados.

Nesta entrevista breve, mas esclarecedora, Maria Lucia Fattorelli apresenta alguns resultados da auditoria da dívida grega, registrando a ilegalidade e ilegitimidade de uma dívida que ampliou significativamente os problemas econômicos, sociais e políticos da Grécia.

 Aponta com muita objetividade que o pagamento da dívida grega, especialmente a partir de 2010, tem sido um instrumento de saque e drenagem de recursos públicos para salvamento dos bancos privados. 

A Grécia estava ajudando os bancos com os planos de austeridade! Pagamento este que rendeu uma grade recessão ao país; sua economia reduziu 30%, salário dos aposentados diminuiu em 50%, 60% estão desempregados, o número de pobres e suicídios se ampliou consideravelmente.

O FMI, assim como o fez na década de 80 na América Latina, saiu desesperadamente em "socorro" aos países que teriam "gastado demais". Basicamente um socorro aos bancos privados e aos conluios destes com corporações, grupos empresariais e políticos que se beneficiam com suas operações financeiras. 

Sob o discurso da "ajuda", por um lado, e da culpabilização dos países ( "A grécia é culpada de sua situação") nações se ajoelham de maneira ilegítima sob o império da exploração financeira. Golpes financeiros rondam o mundo! E o Brasil não apenas esta na rota do saque como suas "autoridades" políticas e econômicas apresentam uma crença inflexível no remédio adotado:os planos de austeridade ou ajustes fiscais.

 O plano de austeridade que aprofunda as desigualdades e contradições, drena recursos financeiros para uma elite rentista e não toca nos privilégios dos super-ricos e milionários, simplesmente aparece como única opção possível. O fatalismo e a resignação são eficazmente inventados por "especialistas" da economia que tem suas vozes amplamente legitimadas e reproduzidas pela mídia hegemônica, o "príncipe eletrônico" da modernidade-mundo segundo Ianni.


A tendência é a situação brasileira se agravar, pois em nome da governabilidade o governo anula suas próprias condições de governar e rende-se as forças conservadoras - algumas reacionárias e fascistas - que dominam o congresso nacional e aproveitam a conjuntura crítica para apresentar e aprovar pautas extramente importantes para uma rentabilidade eleitoreira, mas de fato desprezível para o equacionamento dos graves e históricos problemas da maioria das classes subalternas.

A saída da crise em que vivemos certamente não é simples ou evidente, mas não tenho dúvida que passa pela radicalização dos movimentos sociais e pela defesa de reformas incontornáveis ( Reforma Tributária, Reforma Agrária, Reforma política acrescida da Auditoria da dívida e da reforma urbana) que parte significativa da esquerda deixou de lado para lutar basicamente em nome da democracia (burguesa) e seu Estado democrático de direito, deixando o Socialismo órfão de sujeitos que operassem sua práxis histórica.