quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Notas sobre a Petrobrás e a Mídia golpista: A corrupção é o próprio sistema capitalista estúpido!

Quer queiramos quer não, o destino da Petrobrás para as próximas décadas é,  em boa medida, o destino do próprio desenvolvimento nacional. Contudo, está em curso táticas de “entreguismo” para a apropriação privada desse futuro, pretendem sangrar a Petrobrás em benefício do deus mercado. Fundamental e urgente é não cair no discurso golpista da mídia dominante (Com especial ênfase para Rede Globo e Revista Veja)
Aproveitando-se de uma conjuntura de crise política e econômica interna (mas com vínculos diretos com a recessão europeia, a desaceleração chinesa e o baixo crescimento americano), existe um interesse muito claro em convertê-la numa empresa cujo único objetivo é o lucro (desnacionalização da exploração do petróleo) a revelia de seus trabalhadores e dos interesses nacionais. Querem se apropriar da empresa, suas jazidas, suas tecnologias e seus mercados tendo em vista unicamente a lucratividade de acionistas e do mercado financeiro
Petrobrás é uma empresa da nação e do povo brasileiro e sua imagem não pode ser confundida com a de um grupo de corruptos e corruptores, como quer fazer acreditar a mídia nacional dominante (parte integrante do grande capital), lançando suspeitas e desqualificações sobre o conjunto dos 86 mil trabalhadores da empresa e dos brasileiros que visualizam nela uma base sólida para o desenvolvimento nacional.
Ora, a história da Petrobrás e seu enraizamento  de muitas gerações na sociedade brasileira é muito maior que o interesse mesquinho e privatista de grupos econômicos e políticos que fazem de tudo para extrair o interesse público como horizonte principal da empresa.
 E tudo ocorre em um momento de sucesso muito evidente da empresa:  já algum tempo tornou-se autossuficiente na produção, houve a descoberta do Pré-sal que terá implicações muito positivas em investimentos sociais (os 10% para educação, por exemplo), em 2014 tornou-se a maior empresa global (de capital aberto) em produção de Petróleo e seu valor de mercado hoje vale 110 bilhões de dólares, muito superior aos 15 bilhões que valia em 2002. Sem contar que ela representou mais de 10 % de todo investimento brasileiro em 2014.

Está em curso um processo de desqualificação da Petrobrás

Está em curso um processo de desqualificação da Petrobrás, a  maior, mais lucrativa e socialmente relevante estatal brasileira. O preço de sua desmoralização (sangria ideológica) através de continuados ataques vagos e falsos em breve já poderá ser maior aos valores envolvidos no processo de corrupção, implicando diretamente em seus negócios. 
A mídia hegemônica de maneira seletiva busca incansavelmente vincular o termo corrupção e Petrobrás,  sugerindo que ali habita o grande problema brasileiro que deve ser imediatamente eliminado. Como se a corrupção fosse exclusividade de empresas nacionais e o Brasil fosse o país mais corrupto do mundo. Essa mídia finge não ver a corrupção em âmbito mundial que atinge fatalmente muitas nações através de especulações financeiras, paraísos fiscais e produções de crises econômicas forjadas no mercado negro das finanças onde produtos “tóxicos” são criados com único intuito de lucrar em cima da expropriação e desgraça da população, como ocorreu nos EUA e na Espanha com a crise imobiliária em 2008.
A mídia corporativa esquecendo todos os problemas estruturais brasileira elege a corrupção no Estado como o grande mal, como se não houvesse corrupção nas empresas privadas. Nessa retórica de “mercado é bom e eficiente, Estado é mal e corrupto” surfam grupos políticos/econômicos nacionais e internacionais que são seus beneficiários imediatos, para eles Estado “bom” é Estado mínimo para os interesses públicos nacionais, Estado máximo só se for para dinamizar os lucros/dividendos de suas ações, empreendimentos, empresas privadas. A mensagem é clara,  buscam a todo custo bloquear as interferências do Estado na economia e na Petrobrás para que o mercado – diga-se mercado financeiro, rentista, especulador – assuma as rédeas da economia a partir de sua própria autorregulação, que é na verdade liberdade para lucrar de toda e qualquer maneira independente dos custos sociais que possam causar.
 Esse é o papel ideológico da mídia corporativa para fazer valer os interesses dos bancos e classes rentistas: apresentam meias verdades a fim de enganar a população, tornam-se verdadeiros partidos políticos a serviço do mercado. Ao invés de apresentarem uma conjuntura mundial que ajuda a explicar o aumento da gasolina no país (ação da OPEP que fez despencar o preço do barril de petróleo no mundo[1]) nos querem fazer crer que os problemas são essencialmente nacionais e relacionados a corrupção no seio da Petrobrás. Ora, a gasolina não está cara por causa de corrupção, simplesmente estão jogando a população contra a Petrobrás de maneira criminosa!
            É importante deixar claro que se quer negar o câncer da corrupção e de como ele destrói o tecido social de uma nação e de sua frágil democracia, - que todos os envolvidos sejam julgados e punidos exemplarmente - se quer apenas alertar para os interesses políticos e empresariais por trás da destruição da imagem da Petrobrás pela grande mídia brasileira. A corrupção existe, mas é bom registrar que além do corrompido (Pessoas na gestão da Petrobrás) existe o corruptor (Empresas fornecedoras, empreiteiras, partidos políticos etc..). E neste último pouco se fala na mídia.
 Como bem registra o jornal A verdade (Dezembro de 2014,p.3) existe um cartel de empreiteiras nascidas no seio da ditadura e que desde então se especializam em realizar a exploração do trabalhador brasileiro e roubar os cofres públicos “por meio de fraudes em licitações, contratos superfaturados, empréstimos que recebem de bancos estatais com juros subsidiados e até mesmo as milagrosas ajudas do Estado para comprar outras empresas ou salvá-las da falência”. Entre elas destaca-se a Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, Iesa, Engevi, UTC e Toyo Setal, que “formaram um cartel para fraudar licitações, impor altos preços nos contratos, corromper funcionários da estatal e ganhar rios de dinheiro”. Tal cartel já superou em contratos mais de 59 bilhões de reais através da construção superfaturada de metrôs, viadutos, rodovias e refinarias como a de Abreu e Lima em Pernambuco que fora aprovado custando R$2,5 bilhões e seu custo foi elevado para R$18,5 bilhões, um verdadeiro rouba da riqueza brasileira e da Petrobrás cujo dinheiro “cria” “grandes empresas” e faz milionários da noite para o dia com muito “suor e empreendedorismo”.
Certamente a impunidade não deve prevalecer e os envolvidos (seja de quaisquer partido, empresa ou classe social) no processo de corrupção devem ser julgados e presos, contudo,  esses processos não podem colocar a empresa em situação de crise, paralisia, desconfiança sistemática, sob pena de perdermos - via estratégias privatistas/oportunistas – uma empresa estratégica e socialmente relevante para o futuro do país.
Sua preservação como patrimônio brasileiro é a preservação das condições de um projeto autônomo para nação brasileira sem se render , de um lado, aos interesses de forças nacionais (políticas e econômicas) que buscam pelo golpismo a oportunidade de voltar ao poder e, de outro, aos interesses financeiros transnacionais (bancos, especuladores, agências financeiras, industrias do petróleo estrangeiras como as do EUA etc..) que buscam oportunidades como este para realização de suas ambições.
Embora devamos permanecer críticos ao governo Dilma (especialmente em relação as medidas fiscais que prejudicam os trabalhadores), não devemos acompanhar esse movimento golpista de quem depois de ter perdido eleições democráticas, busque de forma anti-democrática, derrubar o governo. Derrubada que procura ser legitimada  no embalo retórico de desqualificar/desvalorizar a Petrobrás,  sugerindo emplacar  um impeachment que pode trazer criminosamente trágicos problemas para a democracia e para as classes trabalhadoras do Brasil.
Portanto, o problema principal está longe ser a Petrobrás e seus mais de 80 mil funcionários que de fato criam a riqueza nacional, mais um conluio corrupto entre partidos burgueses, empreiteiras  e gestores cujo objetivo principal é atender os interesses do mercado financeiro que se resume basicamente na busca desenfreada por lucros mesmo que seja através de golpes, fraudes, processos de privatização, formação de monopólios privados, assalto ao patrimônio público e expropriação do trabalhador.
Por fim, registramos que a atual presidente ao invés de se apoiar mais diretamente no diálogo com as forças vivas da sociedade e seu conjunto de movimentos sociais, preferiu cooptar parte da direita – que prima pela propriedade privada como fundamenta do do desenvolvimento nacional - para conseguir governabilidade, contudo, corre o risco de colher uma séria ingovernabilidade se não reatar imediatamente suas conexões com as bases e demandas sociais que por enquanto estão sofrendo ataques perversos vindo do Estado através de "ajustes fiscais".
A corrupção é o próprio sistema capitalista estúpido! O financiamento privado de campanha, cujo líder da Câmara (Eduardo Cunha) é especialista, é uma das grandes expressões dessa corrupção do mercado que corrompe sistematicamente o sistema político e a política.
Situação difícil, tensa, não há mais meio termo para o atual governo; deve optar pela subordinação aos interesses progressistas e revolucionários ou render-se de vez aos imperativos do deus mercado ávido para privatizar a Petrobrás.
É diante desse cenário que podemos amadurecer a proposta e a luta pela propriedade social dos meios de produção, na qual toda riqueza produzida  ao invés de ser privatizada por uma minoria de privilegiados é imediatamente redistribuída para  toda sociedade. Nesta sociedade o livre desenvolvimento de cada um representará igualmente o livre desenvolvimento de todos. Que novas sensibilidades, desejos e afetos se agrupem em torno desse ideal de devir democrático.





[1] A OPEP (Organização dos Países produtores de Petróleo) é um cartel de grandes exportadores de Petróleo cuja maior liderança é Arabia Saudita, país que possui os menores custos de produção de petróleo do mundo e é pouco prejudicado nessa baixa de preços organizada pela organização. Existe uma armação geopolítica muito clara em curso, no sentido de prejudicar economicamente outros países (Como Brasil e Rússia) que tem no Petróleo parte significativa do total de suas exportações.