Quer
queiramos quer não, o destino da Petrobrás para as próximas décadas é, em boa medida, o destino do próprio
desenvolvimento nacional. Contudo, está em curso táticas de “entreguismo” para
a apropriação privada desse futuro, pretendem sangrar a Petrobrás em benefício
do deus mercado. Fundamental e urgente é não cair no discurso golpista da mídia
dominante (Com especial ênfase para Rede Globo e Revista Veja)
Aproveitando-se
de uma conjuntura de crise política e econômica interna (mas com vínculos diretos com a recessão europeia, a desaceleração chinesa e o baixo crescimento
americano), existe um interesse muito claro em convertê-la numa empresa cujo
único objetivo é o lucro (desnacionalização da exploração do petróleo) a
revelia de seus trabalhadores e dos interesses nacionais. Querem se apropriar
da empresa, suas jazidas, suas tecnologias e seus mercados tendo em vista
unicamente a lucratividade de acionistas e do mercado financeiro
A Petrobrás é uma empresa da nação e do povo brasileiro e sua imagem não pode ser confundida com a de um grupo de corruptos e corruptores, como quer fazer
acreditar a mídia nacional dominante (parte integrante do grande capital),
lançando suspeitas e desqualificações sobre o conjunto dos 86 mil trabalhadores
da empresa e dos brasileiros que visualizam nela uma base sólida para o
desenvolvimento nacional.
Ora,
a história da Petrobrás e seu enraizamento
de muitas gerações na sociedade brasileira é muito maior que o interesse
mesquinho e privatista de grupos econômicos e políticos que fazem de tudo para
extrair o interesse público como horizonte principal da empresa.
E tudo ocorre em um momento de sucesso muito
evidente da empresa: já algum tempo
tornou-se autossuficiente na produção, houve a descoberta do Pré-sal que terá
implicações muito positivas em investimentos sociais (os 10% para educação, por exemplo), em 2014 tornou-se a maior
empresa global (de capital aberto) em produção de Petróleo e seu valor de
mercado hoje vale 110 bilhões de dólares, muito superior aos 15 bilhões que
valia em 2002. Sem contar que ela representou mais de 10 % de todo investimento
brasileiro em 2014.
Está em curso um processo de
desqualificação da Petrobrás
Está
em curso um processo de desqualificação da Petrobrás, a maior, mais lucrativa e socialmente relevante
estatal brasileira. O preço de sua desmoralização (sangria ideológica) através de continuados ataques vagos e falsos em breve já poderá ser maior aos valores
envolvidos no processo de corrupção, implicando diretamente em seus
negócios.
A
mídia hegemônica de maneira seletiva busca incansavelmente vincular o termo
corrupção e Petrobrás, sugerindo que ali
habita o grande problema brasileiro que deve ser imediatamente eliminado. Como
se a corrupção fosse exclusividade de empresas nacionais e o Brasil fosse o
país mais corrupto do mundo. Essa mídia finge não ver a corrupção em âmbito
mundial que atinge fatalmente muitas nações através de especulações
financeiras, paraísos fiscais e produções de crises econômicas forjadas no
mercado negro das finanças onde produtos “tóxicos” são criados com único
intuito de lucrar em cima da expropriação e desgraça da população, como ocorreu
nos EUA e na Espanha com a crise imobiliária em 2008.
A
mídia corporativa esquecendo todos os problemas estruturais brasileira elege a
corrupção no Estado como o grande mal, como se não houvesse corrupção nas
empresas privadas. Nessa retórica de “mercado é bom e eficiente, Estado é mal e
corrupto” surfam grupos políticos/econômicos nacionais e internacionais que são
seus beneficiários imediatos, para eles Estado “bom” é Estado mínimo para os
interesses públicos nacionais, Estado máximo só se for para dinamizar os
lucros/dividendos de suas ações, empreendimentos, empresas privadas. A mensagem
é clara, buscam a todo custo bloquear as
interferências do Estado na economia e na Petrobrás para que o mercado –
diga-se mercado financeiro, rentista, especulador – assuma as rédeas da
economia a partir de sua própria autorregulação, que é na verdade liberdade para
lucrar de toda e qualquer maneira independente dos custos sociais que possam
causar.
Esse é o papel ideológico da mídia corporativa
para fazer valer os interesses dos bancos e classes rentistas: apresentam meias
verdades a fim de enganar a população, tornam-se verdadeiros partidos políticos
a serviço do mercado. Ao invés de apresentarem uma conjuntura mundial que ajuda
a explicar o aumento da gasolina no país (ação da OPEP que fez despencar o
preço do barril de petróleo no mundo[1])
nos querem fazer crer que os problemas são essencialmente nacionais e
relacionados a corrupção no seio da Petrobrás. Ora, a gasolina não está cara por causa de corrupção,
simplesmente estão jogando a população contra a Petrobrás de maneira criminosa!
É importante deixar claro que se
quer negar o câncer da corrupção e de como ele destrói o tecido social de uma
nação e de sua frágil democracia, - que todos os envolvidos sejam julgados e
punidos exemplarmente - se quer apenas alertar para os interesses políticos e
empresariais por trás da destruição da imagem da Petrobrás pela grande mídia
brasileira. A corrupção existe, mas é bom registrar que além do corrompido
(Pessoas na gestão da Petrobrás) existe o corruptor (Empresas fornecedoras, empreiteiras, partidos políticos etc..). E neste último pouco se fala na mídia.
Como bem registra o jornal A verdade (Dezembro de 2014,p.3) existe
um cartel de empreiteiras nascidas no seio da ditadura e que desde então se
especializam em realizar a exploração do trabalhador brasileiro e roubar os
cofres públicos “por meio de fraudes em licitações, contratos superfaturados,
empréstimos que recebem de bancos estatais com juros subsidiados e até mesmo as
milagrosas ajudas do Estado para comprar outras empresas ou salvá-las da
falência”. Entre elas destaca-se a Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht, Andrade
Gutierrez, Queiroz Galvão, Iesa, Engevi, UTC e Toyo Setal, que “formaram um
cartel para fraudar licitações, impor altos preços nos contratos, corromper
funcionários da estatal e ganhar rios de dinheiro”. Tal cartel já superou em
contratos mais de 59 bilhões de reais através da construção superfaturada de
metrôs, viadutos, rodovias e refinarias como a de Abreu e Lima em Pernambuco
que fora aprovado custando R$2,5 bilhões e seu custo foi elevado para R$18,5
bilhões, um verdadeiro rouba da riqueza brasileira e da Petrobrás cujo dinheiro
“cria” “grandes empresas” e faz milionários da noite para o dia com muito
“suor e empreendedorismo”.
Certamente
a impunidade não deve prevalecer e os envolvidos (seja de quaisquer partido,
empresa ou classe social) no processo de corrupção devem ser julgados e presos,
contudo, esses processos não podem
colocar a empresa em situação de crise, paralisia, desconfiança sistemática,
sob pena de perdermos - via estratégias privatistas/oportunistas – uma empresa
estratégica e socialmente relevante para o futuro do país.
Sua
preservação como patrimônio brasileiro é a preservação das condições de um
projeto autônomo para nação brasileira sem se render , de um lado, aos
interesses de forças nacionais (políticas e econômicas) que buscam pelo
golpismo a oportunidade de voltar ao poder e, de outro, aos interesses
financeiros transnacionais (bancos, especuladores, agências financeiras,
industrias do petróleo estrangeiras como as do EUA etc..) que buscam
oportunidades como este para realização de suas ambições.
Embora
devamos permanecer críticos ao governo Dilma (especialmente em relação as
medidas fiscais que prejudicam os trabalhadores), não devemos acompanhar esse
movimento golpista de quem depois de ter perdido eleições democráticas, busque
de forma anti-democrática, derrubar o governo. Derrubada que procura ser
legitimada no embalo retórico de
desqualificar/desvalorizar a Petrobrás,
sugerindo emplacar um impeachment
que pode trazer criminosamente trágicos problemas para a democracia e para as
classes trabalhadoras do Brasil.
Portanto,
o problema principal está longe ser a Petrobrás e seus mais de 80 mil
funcionários que de fato criam a riqueza nacional, mais um conluio corrupto
entre partidos burgueses, empreiteiras e
gestores cujo objetivo principal é atender os interesses do mercado financeiro
que se resume basicamente na busca desenfreada por lucros mesmo que seja
através de golpes, fraudes, processos de privatização, formação de monopólios privados,
assalto ao patrimônio público e expropriação do trabalhador.
Por fim, registramos que a atual presidente ao
invés de se apoiar mais diretamente no diálogo com as forças vivas da sociedade
e seu conjunto de movimentos sociais, preferiu cooptar parte da direita – que
prima pela propriedade privada como fundamenta do do desenvolvimento nacional -
para conseguir governabilidade, contudo, corre o risco de colher uma séria
ingovernabilidade se não reatar imediatamente suas conexões com as bases e
demandas sociais que por enquanto estão sofrendo ataques perversos vindo do Estado
através de "ajustes fiscais".
A corrupção é o próprio sistema capitalista
estúpido! O financiamento privado de campanha, cujo líder da Câmara (Eduardo
Cunha) é especialista, é uma das grandes expressões dessa corrupção do mercado
que corrompe sistematicamente o sistema político e a política.
Situação difícil, tensa, não há mais meio termo
para o atual governo; deve optar pela subordinação aos interesses progressistas
e revolucionários ou render-se de vez aos imperativos do deus mercado ávido
para privatizar a Petrobrás.
É diante desse cenário que podemos amadurecer a
proposta e a luta pela propriedade social dos meios de produção, na qual toda
riqueza produzida ao invés de ser privatizada por uma minoria de privilegiados é imediatamente redistribuída para toda sociedade. Nesta sociedade o livre desenvolvimento de cada um representará igualmente o livre
desenvolvimento de todos. Que novas sensibilidades, desejos e afetos se agrupem em torno desse ideal de devir democrático.
[1] A OPEP (Organização dos Países
produtores de Petróleo) é um cartel de grandes exportadores de Petróleo cuja
maior liderança é Arabia Saudita, país que possui os menores custos de produção
de petróleo do mundo e é pouco prejudicado nessa baixa de preços organizada
pela organização. Existe uma armação geopolítica muito clara em curso, no
sentido de prejudicar economicamente outros países (Como Brasil e Rússia) que
tem no Petróleo parte significativa do total de suas exportações.