quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Mais um ano se vai: fragmentos do devir-alex no mundo



Mais um ano se vai. Definitivamente tenho dificuldades em pensar meu passado, especialmente o passado recente, rememorar é uma operação demasiadamente cansativa. Não faço questão de fazer cronologia, tampouco selecionar os melhores ou piores momentos. Apesar da ausência de necessidade faço um esforço para registrar alguns momentos ou sentimentos como forma de agradecer aos amigos do facebook e aqueles amigos ou familiares com os quais estabeleci momentos marcantes nessa trajetória.

 Sim! Eu pareço um cara insensível, indiferente, raramente mando mensagens ou inicio conversas, mas não tenham dúvidas, sou capaz de imensa gratidão, solidariedade e amor, além do mais, respeito e sentimento pelos outros não se mede pela quantidade de mensagens enviadas pelo facebook, pela resposta imediata via whatsapp ou por ligações em datas comemorativas. Sei que muitos amam essas ações, mas me perdoem, não julguem minha consideração por vocês através dessas "medidas". Não me saio bem nessas medidas por minha incapacidade em estabelecer comunicações cotidianas com  muitas pessoas, especialmente se elas possuem algum grau de afinidade comigo; me é demasiadamente cansativo, não gosto de escrever qualquer coisa ou comunicar-me pelo automatismo das redes. Não suporto dar um parabéns só porque o facebook me lembrou. Quando eu escrevo algo, escrevo porque realmente quis, senti necessidade. Fico off-line não é por outra razão. Mas também não deixe de falar comigo por conta disso, me chateie, tire-me da comodidade.

         Sim...o ano que passou! já estava me esquecendo.

         Antes de mais nada devo dizer como me sinto nesse término de ano...Eu me sinto chato, envelhecido, em um "mundo de velhas novidades"; os lugares pouco ou nada me encantaram, o Rio de Janeiro, por exemplo, encantou-me apenas nas primeiras horas e por seus sebos, o resto logo se tornou normalidade.. A política nunca me iludiu, porém, ultimamente tem me deixado entediado, "junho de 2013" e alguns de seus desdobramentos até o período da copa foram energizantes, constituintes, os momentos mais significativos da política recente.A política institucionalizada, suas eleições e nomeações prosseguem - em geral - com suas mediocridades. Prefiro não comentar.

         Este ano não vivi extremos, mas tanto passei por alguns "aperreios" quanto passei por ligeiros momentos de alegria. 

         Os primeiros encarei com certa facilidade, visualizei-os através de um enfoque positivo: "se não me mata, me fortalece" (Clichê necessário). Após 26 de sofrência terrena, algumas lições tiramos dessa passagem, algumas experiências se convertem em relativa sabedoria, e uma delas é que devemos manter a quietude, a paciência e a tolerência em momentos difíceis, no mínimo devemos passar essa impressão para aqueles que nos cercam, para evitar eventuais desesperos coletivos. Procedimento este que se mostrou importante em minha existência, apesar de, por vezes, por dentro da carapaça corpórea, um angustiado ego parecia não se conter nos limites estabelecidos pelo auto-controle.

         O segundo, os momentos de alegria, geralmente estiveram vinculados a experiência cotidiana com o desenvolvimento da minha filha ou com reencontros com familiares e amigos. Mas também estiveram associados a certas conquistas. Conquistas que pareceram apenas como obrigações, a exemplo da aprovação  no doutorado e no concurso da Seduc..Talvez a sociologia tenha tornado estas conquistas menos "meritocráticas", afinal sei que ainda sou uma exceção nessa Brasil, não por minha excepcionalidade. Esse fato não me torna melhor que ninguém, indica apenas que, para alem de meus esforços, fui privilegiado pelas oportunidades que tive. Em que pesem os descaminhos atuais do governo do PT, muitas oportunidades para "os de baixo" surgiram nos últimos 12 anos. Um fato incontestável.

          Alguns filmes - geralmente acompanhadas de guloseimas - me trouxeram momentos de descontração: Her, Transcendente, Lucy. Não é o caso de comentá-los aqui, mas honestamente indico para assistirem. Poisé, assisti Hobbit 3, Êxodo, não fui surpreendido.

         Tive aulas no Doutorado com o Professor Edgar de Assis de Carvalho; a simplicidade das exposições e a complexidade dos temas entremeadas por minhas "viagens filosóficas" deixaram uma marca em minha concepção de ciência: menos  simplificada e mais integrada, menos rígida e mais poética!
         Cansei de rememorar..deixo agora uma chata reflexão de um jovem sociólogo sobre o ano novo...

         Ano novo,  planos individuais e desenvolvimento regional

         As condições e as possibilidades de um ano melhor para mim estão condicionadas em larga escala pelas condições e possibilidades do desenvolvimento nacional, regional, municipal e familiar. Tais condições gerais tem implicações diretas na distribuição de oportunidades, bens e capitais produzidas coletivamente pelo conjunto da população que trabalha.

         Nesse sentido, as possibilidades e os limites do desenvolvimento regional para o ano que vem e para os anos seguintes tem relação direta com os planejamentos individuais e coletivos.

         O primeiro tem caráter muito particular, definido pelos desejos e objetivos que cada indivíduo pretende realizar e geralmente concebido como conquista que diz respeito apenas ao esforço individual, por vezes, interpretado sob o prisma da meritocracia. Interpretado sob enfoque as conquistas ou insucessos individuais descambam inevitavelmente para uma competição social onde as partes em disputa produzem supostos vencedores e perdedores, virtuosos e não-virtuosos, merecedores e não-merecedores, classificação esta marcada pela exclusão, produção de hierarquias, valores perversos, reprodução de desigualdades, individualismo exacerbado e preconceitos que se legitimam numa pseudo-disputa chamada de meritocracia. Ora, não existe conquista (nesse caso, competição) meritocrática em uma sociedade desigual, hierarquizada, que distribui injustamente as condições e oportunidades para as realizações individuais, em outras palavras, a busca e realização de conquistas individuais numa sociedade amplamente desigual não pode gerar um ano ou um futuro mais justo e democrático - ao menos coletivamente -já que tais realizações se enraízam em pressupostos que não contribuem com solidariedade, a inclusão, a distribuição equitativa de renda, poder, riquezas e, sobretudo, condições justas para as realizações individuais.

         Os planejamentos coletivos, por outro lado, se assentam em outro horizonte de reflexão e ação. Não toma as realizações ou conquistas isoladamente nem as concebe como produtos excluídos das dinâmicas mais gerais que contextualizam uma dada formação social. Em outras palavras, o planejamento coletivo, seja familiar, grupal, de bairro, município, regional, nacional deve pautar-se necessariamente por princípios, valores, objetivos e estratégias que busquem a promoção de um desenvolvimento social justo e democrático. Desenvolvimento este cujo sucesso se assenta não no sucesso individual, setorial, regional isoladamente, mas o percebe integralmente, privilegiando os fatores da inclusão social política e econômica tanto quanto a diminuição de estruturas de dominação e expropriação econômica que reproduzem privilégios de toda ordem. Inclusão por um lado e combate aos privilégios de outro, eis o horizonte do desenvolvimento que tende a se tornar sustentável, pois aos poucos destrói as fontes produtoras de privilégios que se traduzem em desigualdades, hierarquias e contradições de toda ordem que perpassam os vários níveis de organização de uma nação, região, município, coletivos e famílias.

         Com  isto quero dizer que um próspero futuro para todos (anos,, décadas) recheado de paz, amor e justiça passa necessariamente não apenas pelas conquistas e realizações individuais - certamente importantes - mas de maneira significativa, vincula-se as formas, meios, objetivos, estratégias pelas quais projetamos um futuro para nossa nação, região, município ou família. As aspirações, desejos e necessidades individuais devem ser conquistadas em sinergia com esses contextos mais amplos, deve através de ações individuais potencializar realizações coletivas, deve priorizar medidas que embora individuais tenham repercussões que ataquem os processos sociais negativos: carências, pobrezas, desigualdades, preconceitos etc.. 

         É importante conquistas individuais como ter um carro para se locomover, um sistema de segurança para se proteger, um lugar privilegiado na hierarquia da empresa etc...mas em que medida tais realizações são socialmente importantes quando com a compra do meu carro vou contribuir com  mais congestionamentos e poluentes para atmosfera, quando minha proteção individual não elimina ou diminui os riscos e medos  que são socialmente produzidos, quando minha elevação na hierarquia da empresa pode resultar em competições mais duras, em ações socialmente perversas, em assinaturas que podem representar em ações deletérias para o tecido social. Longe de querer impedir tais realizações! Não é esse o caso, a maioria de nós possui tais ambições tendo em vista apenas a melhoria de nossas vidas. A ideia é apenas sugerir uma reflexão menos isolada e mais contextualizadas do planejamento e das prioridades de nossas vidas para o ano vindouro.

         O  conjunto de ações, iniciativas e projeções de futuro de cariz individual se planejadas tendo em vista prioridades coletivas, tendem a antecipar os anos de mais prosperidade, amor e realizações diversas. Quem sabe ao invés de presentes para proporcionar uma breve alegria as nossas crianças, não possamos oferecer uma sociedade mais justa e democrática, onde as condições e possibilidades de sucesso individual sejam menos produtos de virtudes pessoais do que resultado de oportunidades socialmente oferecidas. O objetivo é a prosperidade e amor em larga escala, integrando o conjunto da sociedade, não parcelas ou fragmentos da mesma que revelam apenas suas contradições, hierarquias e privilégios. A produção da paz, do amor, da saúde  e da tolerância certamente partem  do indivíduo, mas só adquirem  valor  e sentido em relação aos outros indivíduos, portanto, não existe conquista individual que não tenha implicações sociais, para o bem ou para ou não.