Mais um ano se
vai. Definitivamente tenho dificuldades em pensar meu passado, especialmente o
passado recente, rememorar é uma operação demasiadamente cansativa. Não faço
questão de fazer cronologia, tampouco selecionar os melhores ou piores
momentos. Apesar da ausência de necessidade faço um esforço para registrar
alguns momentos ou sentimentos como forma de agradecer aos amigos do facebook e
aqueles amigos ou familiares com os quais estabeleci momentos marcantes nessa
trajetória.
Sim! Eu pareço um cara insensível, indiferente, raramente mando
mensagens ou inicio conversas, mas não tenham dúvidas, sou capaz de imensa
gratidão, solidariedade e amor, além do mais, respeito e sentimento pelos
outros não se mede pela quantidade de mensagens enviadas pelo facebook, pela
resposta imediata via whatsapp ou por ligações em datas comemorativas. Sei que
muitos amam essas ações, mas me perdoem, não julguem minha consideração por
vocês através dessas "medidas". Não me saio bem nessas medidas por
minha incapacidade em estabelecer comunicações cotidianas com muitas pessoas, especialmente se elas possuem
algum grau de afinidade comigo; me é demasiadamente cansativo, não gosto de
escrever qualquer coisa ou comunicar-me pelo automatismo das redes. Não suporto
dar um parabéns só porque o facebook me lembrou. Quando eu escrevo algo,
escrevo porque realmente quis, senti necessidade. Fico off-line não é por outra
razão. Mas também não deixe de falar comigo por conta disso, me chateie,
tire-me da comodidade.
Sim...o ano que passou! já estava me
esquecendo.
Antes de mais nada devo dizer como me
sinto nesse término de ano...Eu me sinto chato, envelhecido, em um "mundo
de velhas novidades"; os lugares pouco ou nada me encantaram, o Rio de
Janeiro, por exemplo, encantou-me apenas nas primeiras horas e por seus sebos,
o resto logo se tornou normalidade.. A política nunca me iludiu, porém,
ultimamente tem me deixado entediado, "junho de 2013" e alguns de
seus desdobramentos até o período da copa foram energizantes, constituintes, os
momentos mais significativos da política recente.A política institucionalizada,
suas eleições e nomeações prosseguem - em geral - com suas mediocridades.
Prefiro não comentar.
Este ano não vivi extremos, mas tanto
passei por alguns "aperreios" quanto passei por ligeiros momentos de
alegria.
Os primeiros encarei com certa
facilidade, visualizei-os através de um enfoque positivo: "se não me mata,
me fortalece" (Clichê necessário). Após 26 de sofrência terrena, algumas
lições tiramos dessa passagem, algumas experiências se convertem em relativa
sabedoria, e uma delas é que devemos manter a quietude, a paciência e a
tolerência em momentos difíceis, no mínimo devemos passar essa impressão para
aqueles que nos cercam, para evitar eventuais desesperos coletivos.
Procedimento este que se mostrou importante em minha existência, apesar de, por
vezes, por dentro da carapaça corpórea, um angustiado ego parecia não se conter
nos limites estabelecidos pelo auto-controle.
O segundo, os momentos de alegria,
geralmente estiveram vinculados a experiência cotidiana com o desenvolvimento
da minha filha ou com reencontros com familiares e amigos. Mas também estiveram
associados a certas conquistas. Conquistas que pareceram apenas como
obrigações, a exemplo da aprovação no
doutorado e no concurso da Seduc..Talvez a sociologia tenha tornado estas
conquistas menos "meritocráticas", afinal sei que ainda sou uma
exceção nessa Brasil, não por minha excepcionalidade. Esse fato não me torna
melhor que ninguém, indica apenas que, para alem de meus esforços, fui
privilegiado pelas oportunidades que tive. Em que pesem os descaminhos atuais
do governo do PT, muitas oportunidades para "os de baixo" surgiram
nos últimos 12 anos. Um fato incontestável.
Alguns filmes - geralmente acompanhadas de
guloseimas - me trouxeram momentos de descontração: Her, Transcendente, Lucy.
Não é o caso de comentá-los aqui, mas honestamente indico para assistirem.
Poisé, assisti Hobbit 3, Êxodo, não fui surpreendido.
Tive aulas no Doutorado com o Professor
Edgar de Assis de Carvalho; a simplicidade das exposições e a complexidade dos
temas entremeadas por minhas "viagens filosóficas" deixaram uma marca
em minha concepção de ciência: menos
simplificada e mais integrada, menos rígida e mais poética!
Cansei de rememorar..deixo agora uma
chata reflexão de um jovem sociólogo sobre o ano novo...
Ano novo, planos individuais e desenvolvimento regional
As condições e as possibilidades de um
ano melhor para mim estão condicionadas em larga escala pelas condições e
possibilidades do desenvolvimento nacional, regional, municipal e familiar.
Tais condições gerais tem implicações diretas na distribuição de oportunidades,
bens e capitais produzidas coletivamente pelo conjunto da população que
trabalha.
Nesse sentido, as possibilidades e os
limites do desenvolvimento regional para o ano que vem e para os anos seguintes
tem relação direta com os planejamentos individuais e coletivos.
O primeiro tem caráter muito particular,
definido pelos desejos e objetivos que cada indivíduo pretende realizar e
geralmente concebido como conquista que diz respeito apenas ao esforço
individual, por vezes, interpretado sob o prisma da meritocracia. Interpretado
sob enfoque as conquistas ou insucessos individuais descambam inevitavelmente
para uma competição social onde as partes em disputa produzem supostos
vencedores e perdedores, virtuosos e não-virtuosos, merecedores e
não-merecedores, classificação esta marcada pela exclusão, produção de hierarquias,
valores perversos, reprodução de desigualdades, individualismo exacerbado e
preconceitos que se legitimam numa pseudo-disputa chamada de meritocracia. Ora,
não existe conquista (nesse caso, competição) meritocrática em uma sociedade
desigual, hierarquizada, que distribui injustamente as condições e
oportunidades para as realizações individuais, em outras palavras, a busca e
realização de conquistas individuais numa sociedade amplamente desigual não
pode gerar um ano ou um futuro mais justo e democrático - ao menos
coletivamente -já que tais realizações se enraízam em pressupostos que não
contribuem com solidariedade, a inclusão, a distribuição equitativa de renda,
poder, riquezas e, sobretudo, condições justas para as realizações individuais.
Os planejamentos coletivos, por outro
lado, se assentam em outro horizonte de reflexão e ação. Não toma as
realizações ou conquistas isoladamente nem as concebe como produtos excluídos
das dinâmicas mais gerais que contextualizam uma dada formação social. Em
outras palavras, o planejamento coletivo, seja familiar, grupal, de bairro,
município, regional, nacional deve pautar-se necessariamente por princípios,
valores, objetivos e estratégias que busquem a promoção de um desenvolvimento
social justo e democrático. Desenvolvimento este cujo sucesso se assenta não no
sucesso individual, setorial, regional isoladamente, mas o percebe
integralmente, privilegiando os fatores da inclusão social política e econômica
tanto quanto a diminuição de estruturas de dominação e expropriação econômica
que reproduzem privilégios de toda ordem. Inclusão por um lado e combate aos
privilégios de outro, eis o horizonte do desenvolvimento que tende a se tornar
sustentável, pois aos poucos destrói as fontes produtoras de privilégios que se
traduzem em desigualdades, hierarquias e contradições de toda ordem que
perpassam os vários níveis de organização de uma nação, região, município,
coletivos e famílias.
Com
isto quero dizer que um próspero futuro para todos (anos,, décadas)
recheado de paz, amor e justiça passa necessariamente não apenas pelas
conquistas e realizações individuais - certamente importantes - mas de maneira
significativa, vincula-se as formas, meios, objetivos, estratégias pelas quais
projetamos um futuro para nossa nação, região, município ou família. As
aspirações, desejos e necessidades individuais devem ser conquistadas em
sinergia com esses contextos mais amplos, deve através de ações individuais
potencializar realizações coletivas, deve priorizar medidas que embora
individuais tenham repercussões que ataquem os processos sociais negativos:
carências, pobrezas, desigualdades, preconceitos etc..
É importante conquistas individuais
como ter um carro para se locomover, um sistema de segurança para se proteger,
um lugar privilegiado na hierarquia da empresa etc...mas em que medida tais
realizações são socialmente importantes quando com a compra do meu carro vou
contribuir com mais congestionamentos e poluentes para atmosfera, quando minha proteção individual não elimina ou
diminui os riscos e medos que são
socialmente produzidos, quando minha elevação na hierarquia da empresa pode
resultar em competições mais duras, em ações socialmente perversas, em
assinaturas que podem representar em ações deletérias para o tecido social.
Longe de querer impedir tais realizações! Não é esse o caso, a maioria de nós
possui tais ambições tendo em vista apenas a melhoria de nossas vidas. A ideia
é apenas sugerir uma reflexão menos isolada e mais contextualizadas do
planejamento e das prioridades de nossas vidas para o ano vindouro.
O
conjunto de ações, iniciativas e projeções de futuro de cariz individual
se planejadas tendo em vista prioridades coletivas, tendem a antecipar os anos
de mais prosperidade, amor e realizações diversas. Quem sabe ao invés de
presentes para proporcionar uma breve alegria as nossas crianças, não possamos
oferecer uma sociedade mais justa e democrática, onde as condições e
possibilidades de sucesso individual sejam menos produtos de virtudes pessoais
do que resultado de oportunidades socialmente oferecidas. O objetivo é a
prosperidade e amor em larga escala, integrando o conjunto da sociedade, não
parcelas ou fragmentos da mesma que revelam apenas suas contradições,
hierarquias e privilégios. A produção da paz, do amor, da saúde e da tolerância certamente partem do indivíduo, mas só adquirem valor
e sentido em relação aos outros indivíduos, portanto, não existe
conquista individual que não tenha implicações sociais, para o bem ou para ou
não.