sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Do Egoísmo à necessidade de reinvenção da Política.


      Antonio Luiz, nas redes sociais, é meu inspirador oficial. E novamente me convidou a pensar  e  a objetivar as reflexão daí decorrentes em um texto. O assunto da vez foi o egoísmo, mas a reflexão me levou a política.

     Enquanto sociólogo devo afirmar que o egoísmo, assim como outras “doenças da alma” são originárias de visões de mundo e ideologias que maltratam a coexistência dos indivíduos em sociedade.
     Essa “doença da alma” infelizmente se reproduz socialmente e reflete as principais ideologias e tendências de nosso tempo: liberalismo, individualismo, competitividade exacerbada, consumismo frenético, hedonismo etc..
      A própria idéia de um ser egoísta é um contra-senso a meu ver, pois como diria Aristóteles, somos animais políticos e necessitamos da convivência em sociedade para nos tornarmos humanos e cidadãos, sem esse pressuposto político somos apenas animais guiados pelos instintos, somos idiotas, no sentido daquele que não se importa com a coisa pública, com a coisa socialmente construída. 
       Me referi ao “animal político” de Aristóteles para expressar a idéia de que o egoísmo que reina em nossa sociedade possui um vínculo direto com a proliferação de idiotas no sentido político. Cortella em livro com Renato Janine, Política para não ser idiota, nos ensina que Idiótes , em grego, significa aquele que só vive a vida privada, que recusa a política, que diz não à política”, em outras palavras, é aquele que volta-se para si mesmo, se vê auto-suficiente e pensar não depender de ninguém alem de si mesmo.
     Infelizmente ocorre uma larga produção desses individuais atualmente. Mas acredito que isso se deve, em parte, por dois fatores.
     Primeiro, porque esses indivíduos são intoxicados por ideologias que garantem que o ‘sucesso’, ‘liberdade’, ‘riqueza’ e ‘felicidade’ são resultados do esforço individual, da ‘meritocracia’, o que exigiria muita ‘determinação’, ‘estratégias’ para se tornarem ‘virtuosos’, ‘empreendedores’, ‘competitivos’, enfim, ‘vencedores’. Os indivíduos que orientam sua conduta por essa perspectiva ( política darwinista de vida ) alimentam uma idéia hobbesiana de que vivemos numa selva social, “que o homem é o lobo do homem”, onde os mais fortes sobrevivem e alcançam seu “lugar ao sol”.
     Segundo, porque a sentido da política encontra-se descredibilizada. A política que reina entre nós atualmente é carregado de conotações negativas. O cenário é de corrupção e impunidade. Cenário este tão amplamente divulgado pela mídia que grande parte da população naturaliza a questão como fazendo parte do fazer política. De um lado, descredibiliza-se o sentido da política e, de outro, indivíduos ao invés de indignarem, se resignam e vislumbram como única saída projetos políticos individuais, baseados em ‘seus’ interesses, valores e ‘jeitinhos’ afins.
     Para alem desse cenário sombrio, ainda acredito que o egoísmo imperante em nossa sociedade só pode ser combatido a partir da renovação do sentido da política enquanto empreendimento prático da construção da coexistência saudável em sociedade. Trata-se não de uma política egoísta do idiota, mas sim seu contraponto, uma política que se direciona para o conjunto social, para coisa pública; uma política baseada na cooperação, concessão, anulação de interesses pessoais e solidariedade.
     É dessa perspectiva que extraio minha concepção de política, se não altruísta ao menos solidária, pois a penso como a arte de conviver, de co-existir, de cooperar, de viver em sociedade, o que exigirá a arte de debater, negociar, fazer concessões para criação de consensos relativos tendo em vista encaminhar e deliberar acerca dos assuntos públicos, que dizem respeito ao bem comum... é nessa criação que temos que conciliar nossos interesses, valores e pontos de vistas com as de outros, afinal, somos animais políticos e nossa liberdade só é possível em sociedade, em interdependência recíproca com nossas semelhantes.