Antonio Luiz, nas redes sociais, é meu
inspirador oficial. E novamente me convidou a pensar e a objetivar
as reflexão daí decorrentes em um texto. O assunto da vez foi o egoísmo, mas a
reflexão me levou a política.
Enquanto sociólogo
devo afirmar que o egoísmo, assim como outras “doenças da alma” são originárias
de visões de mundo e ideologias que maltratam a coexistência dos indivíduos em
sociedade.
Essa “doença da
alma” infelizmente se reproduz socialmente e reflete as principais ideologias e
tendências de nosso tempo: liberalismo, individualismo, competitividade
exacerbada, consumismo frenético, hedonismo etc..
A própria idéia de um ser egoísta
é um contra-senso a meu ver, pois como diria Aristóteles, somos animais
políticos e necessitamos da convivência em sociedade para nos tornarmos humanos
e cidadãos, sem esse pressuposto político somos apenas animais guiados pelos
instintos, somos idiotas, no sentido daquele que não se importa com a coisa
pública, com a coisa socialmente construída.
Me referi ao “animal político”
de Aristóteles para expressar a idéia de que o egoísmo que reina em nossa
sociedade possui um vínculo direto com a proliferação de idiotas no sentido
político. Cortella em livro com Renato Janine, Política para não ser idiota,
nos ensina que Idiótes , em grego, significa aquele que só vive a vida privada,
que recusa a política, que diz não à política”, em outras palavras, é aquele
que volta-se para si mesmo, se vê auto-suficiente e pensar não depender de
ninguém alem de si mesmo.
Infelizmente ocorre
uma larga produção desses individuais atualmente. Mas acredito que isso se
deve, em parte, por dois fatores.
Primeiro, porque
esses indivíduos são intoxicados por ideologias que garantem que o ‘sucesso’,
‘liberdade’, ‘riqueza’ e ‘felicidade’ são resultados do esforço individual, da
‘meritocracia’, o que exigiria muita ‘determinação’, ‘estratégias’ para se
tornarem ‘virtuosos’, ‘empreendedores’, ‘competitivos’, enfim, ‘vencedores’. Os
indivíduos que orientam sua conduta por essa perspectiva ( política darwinista
de vida ) alimentam uma idéia hobbesiana de que vivemos numa selva social, “que
o homem é o lobo do homem”, onde os mais fortes sobrevivem e alcançam seu
“lugar ao sol”.
Segundo, porque a
sentido da política encontra-se descredibilizada. A política que reina entre
nós atualmente é carregado de conotações negativas. O cenário é de corrupção e
impunidade. Cenário este tão amplamente divulgado pela mídia que grande parte
da população naturaliza a questão como fazendo parte do fazer política. De um
lado, descredibiliza-se o sentido da política e, de outro, indivíduos ao invés
de indignarem, se resignam e vislumbram como única saída projetos políticos
individuais, baseados em ‘seus’ interesses, valores e ‘jeitinhos’ afins.
Para alem desse
cenário sombrio, ainda acredito que o egoísmo imperante em nossa sociedade só
pode ser combatido a partir da renovação do sentido da política enquanto
empreendimento prático da construção da coexistência saudável em sociedade.
Trata-se não de uma política egoísta do idiota, mas sim seu contraponto, uma
política que se direciona para o conjunto social, para coisa pública; uma
política baseada na cooperação, concessão, anulação de interesses pessoais e
solidariedade.
É dessa perspectiva
que extraio minha concepção de política, se não altruísta ao menos solidária,
pois a penso como a arte de conviver, de co-existir, de cooperar, de viver
em sociedade, o que exigirá a arte de debater, negociar, fazer concessões para
criação de consensos relativos tendo em vista encaminhar e deliberar acerca dos
assuntos públicos, que dizem respeito ao bem comum... é nessa criação que temos
que conciliar nossos interesses, valores e pontos de vistas com as de outros,
afinal, somos animais políticos e nossa liberdade só é possível em sociedade,
em interdependência recíproca com nossas semelhantes.