terça-feira, 12 de abril de 2016

Socialização da política e suas ambivalências.


Sim. Vivemos mais um momento de socialização da política, de politização da sociedade e generalização de debates públicos. Essa socialização, contudo, é permeada de contradições e ambivalências tanto quanto de experimentações, incertezas e apostas de alto risco. Isto é, no curto prazo não necessariamente pode ocorrer uma requalificação ou reinvenção da políticas em novos termos ou com novos atores no sentido positivo de socialização da politica com radicalização democrática e equacionamentos de problemas econômicos e sociais pela via política. Ao contrário, devido uma politização mais à direita, de coloração conservadora a esfera da política se amplia mas de maneira contraditória e perigosa, podendo anular a própria natureza positiva da politica, caracterizada por equacionar conflitos pelo firmamento de regras e  pela administração de interesses divergentes tendo em vista uma convivência que não  se deteriore via confrontos, mas se revigore via diálogo construtivo (marcado positivamente pelo dissenso )

Em síntese, maior politização no sentido de democratização do debate público não significa necessariamente uma socialização qualificada da política ou maior democratização da sociedade. A maior democratização da sociedade passa inelutavelmente pela democratização das estruturas de poder, pela demolição dos processos de dominação  política e expropriação econômica. A atual dinâmica anti-política e seu fortalecimento de ideais e programas conservadores, tendem -  se não contrapostos- a  converter a força das ruas não em poder institucionalizado que socialize o poder, mas ao contrário, cria espaço, crédito e legitimidade para forças e dinâmicas arbitrárias, seletivas e excludentes  que se apropriam e  capturam  o poder constituído para produção de um Estado de Exceção e uma democracia de baixíssima intensidade

 Como diria Bessa, “nem tudo que reluz é moro”. A boa intenção em destituir uma presidente crendo piamente que se vá equacionar a crise instalada , de um lado,  e de outro, a defesa intransigente de um Brasil e uma nação para além das bandeiras e classes e na suposta defesa do “interesse de todos” , podem colocar  - oferecendo legitimidade e sentimento popular -em marcha atos, procedimentos e dinâmicas jurídicas, políticas, econômicas e sociais nada democráticas no médio prazo.

A pluralidade de vozes das ruas e sua potencia em termos de socialização da política, repito, pode servir ao que Carlos Nelson Coutinho denominou de “apropriação não social dos mecanismos de governo da sociedade”,  significando a neutralização das políticas transformadoras que as ruas podem produzir, implicando não no “predomínio da vontade geral, do interesse público” expresso em políticas que se orientam pela justiça social e eliminação das desigualdades, mas sim instalando um “óbice à plena afirmação da democracia”, ao combate às desigualdades, a democracia econômica e a socialização do poder.

A “pluralidade” das ruas pode em breve conduzir a uma unidade política conservadora que aproveita-se da conjuntura para controlar os aparelhos estatais, eleger “salvadores” e sob pretexto de “manter a  ordem” e conseguir com urgência do crescimento econômico, intensificará o ajuste fiscal (austericídio ), a repressão das diversidades, bem como a criminalização dos movimentos sociais e destruição ecológica etc..



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