sexta-feira, 19 de junho de 2015

A eficiência da greve como plataforma anti-austeridade e momento de politização.



Alguns colegas professores afirmam que a greve não é o melhor caminho, que está ultrapassada e que precisamos de outras formas de luta, pois criamos problemas com calendário acadêmico e prejudicamos os alunos. Mas eu sempre pergunto, quais são essas alternativas e formas de luta? Panelaço? Abaixo assinado? Conseguir dar 75% das aulas do período? Construir fundo anti-greve? Talvez a greve não seja a mais eficiente para conseguir certas conquistas específicas para categoria, mas quem disse que sua “eficiência” deve ser julgada unicamente sob esse prisma?

A eficiência de uma greve se mede por sua capacidade de explicitar as contradições da sociedade, desconstruir discursos mesquinhos, desfazer consensos fabricados, desafiar o poder constituído e suas redes de corrupção e conluio, sua eficiência se mede por sua capacidade de mobilizar e politizar a sociedade! Fico pensando no aprendizado não contabilizado em aulas, avaliações e notas produzido através de diálogos, reuniões, atividades culturais e conflitos entre os partidários e não partidários da greve. Pela primeira muitos alunos e professores debateram sobre política, perceberam o jogo partidário no interior da universidade, aprenderam sobre o funcionamento e papel de um sindicato, enfim, a greve é ineficiente apenas pela perspectiva utilitária e economicista do capital e das classes dominantes dentro e fora da universidade.

Muitos afirmam que a conjuntura não é propicia para nenhum ganho do movimento grevista, pois a crise econômica é séria e o pais não está crescendo. Mas eu me pergunto, devemos subordinar tudo em uma nação ao crescimento econômico? A conjuntura não é boa para que e para quem? Será que crescimento significa desenvolvimento? O “Milagre econômico” brasileiro que o diga! Crescimento da economia não significa automaticamente melhor distribuição de renda, poder e maior qualidade de vida para a população, pode ocorrer exatamente ao contrário!

Ora, as concessões de portos e aeroportos vão bem, o agronegócio recebeu quase 200 bilhões, as universidades particulares continuam recebendo somas milionárias do governo, o sistema da dívida pública continua drenando tranquilamente quase metade do PIB nacional (46%). A crise é para quem mesmo?

Percebemos notavelmente, não apenas no Brasil como em boa parte do mundo, que momentos de crise do capital, representam momentos de espoliação das classes e setores sociais subalternos, de forma que se realiza a socialização dos custos da crise através dos planos de austeridade ou ajustes que privilegiam e selecionam as classes trabalhadoras para pagarem a crise ao mesmo tempo que ocorre concentração de renda e poder nas mãos de 1%.

Certamente vivemos uma crise econômica nacional e internacional como partes interligadas de uma crise sistêmica do capitalismo desigual e combinado, mas ao mesmo tempo é importante registrar que os “remédios” e soluções para equacionar a crise em solo nacional, via ajuste fiscal, não é a única solução possível, um fato inevitável. Repito: Trata-se de uma opção política, está muito evidente que as opções ou remédios para saída da crise brasileira beneficiam diretamente o Capital em detrimento do Trabalho, isto porque os momentos de crise representam "oportunidades" para o refinamento das dinâmicas de concentração de riqueza e espoliação da classe trabalhadora, e o discurso da "segurança jurídica" e da "competitividade" (dos economistas do capital) - são quase sempre os os fundamentos legitimadores dessas operações.

Por fim, registro que em momentos de “bonança” as melhorias, por exemplo, em termos do salários dos trabalhadores e investimentos na área da educação são realizadas aos poucos e lentamente, contudo, em tempos de crise a dilapidação dessas conquistas ocorrem rápida e intensamente, geralmente seguida de processos de privatização se não nos opormos frontalmente a esses ataques. No caso especifico das universidade públicas nossa resistência significa a manutenção do caráter público da universidade face aos processos de mercantilização que ambicionam converter o “estar em sala de aula” em mercadoria.

A greve hoje, muito mais que uma luta por melhores salários, representa uma plataforma anti-austeridade, uma ação coletiva contra a opção de ajuste fiscal em curso que não é inevitável e poderia ser direcionado para as classes ricas e privilegiadas através da taxação sobre grandes fortunas, aumento de impostos sobre sobre heranças que no brasil é uma piada. Eu apoio a greve porque outro ajuste fiscal é possível e urgente! Um pátria educadora de fato se constrói com mobilização, organização e politização para construção do protagonismo cidadão crítico. Só a luta ensina!


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terça-feira, 16 de junho de 2015

O SENTIDO DA "AULA NORMAL" NA UFAM







Aqueles professores que reduzem o sentido da universidade ao ato de "dar aula" são, em sua grande maioria, aqueles que atendem acriticamente ao menos duas funções:


" A primeira delas é a redução da universidade a mera formadora de mão de obra, ou seja, sua plena identificação com a posição do país na divisão internacional do trabalho cujos cursos de engenharia ou economia constituem expressão máxima.


A segunda é a redução da universidade a instrumento de colonialismo mental, cultural e científico a que, de fato, está quase limitada" Nildo Domingos Ouriques (2014)


Para aqueles professores que afirmam que está tendo "aula normal" é preciso registrar a normalidade a que eles se referem.


Infelizmente "Aula normal" para muitos alunos representa a relação ensino/aprendizagem da "educação bancária", aquela em que o "professor" professa o conhecimento "iluminado" e o aluno passiva e acriticamente recebe o "conteúdo" que vai "cair na prova", que provará apenas a eficácia em reproduzir conhecimento alheio sem a devida contextualização ou aproximação com os problemas reais da população.


Essa "aula normal" representa uma "universidade anti-povo", que quer viver de títulos e "status acadêmico" ,de um lado, e de outro, quer oferecer adestramento técnico para simples inserção dos alunos no mercado.


Essa "aula normal" aceita passivamente e resignada os problemas que afetam a população brasileira em geral e os cortes na área da educação em particular.


Essa "aula normal" é precisamente aquela que pretende construir conhecimento supostamente "neutro e universal", quando na maioria dos casos está apenas ocultando "todas as misérias de uma instituição a serviço da classe dominante, especialmente graves na periferia do sistema capitalista".


Essa "aula normal" que garante o "estamos em aula" dos alunos, sob o pretexto de garantir o calendário acadêmico, é aquela que não garante a anulação do processo de precarização das universidades em curso; é aquela que não contribui com uma universidade autônoma e com a reestruturação da carreira docente; é aquela que crê fazer um grande favor aos alunos formando-os apressadamente sem que os mesmos conheçam e reconheçam criticamente os problemas da sociedade na qual eles estão inseridos; é aquela que reduz a democracia a voto sem debate sobre o tema ser votado; é aquela que realiza assédio moral aos alunos, obrigando a muitos a estarem em sala de aula porque se não sofrerão retaliações; é aquela que não respeita um resultado democrático de deflagração de uma greve decidida em assembléia geral pela categoria.


Ora, estar em sala de aula é na atual conjuntura uma atitude resignada , fatalista e de aceitação do conjunto de problemas que afetam o funcionamento de uma universidade de caráter público, gratuito, de qualidade, popular e descolonizada! É em prol de qual UFAM que certos "amigos da Ufam" se mobilizam?