"Falando em Sociedade" é um blog cujo sentido é o de apresentar e problematizar, por um lado, vivências e experiências do nosso cotidiano e, por outro, eventos, acontecimentos e cenários mais gerais de nossa sociedade, que permitem traduzir problemas e dilemas que afetam e condicionam nossas vidas.
sexta-feira, 21 de junho de 2013
quinta-feira, 20 de junho de 2013
OS FILHOS DO “LULISMO”: A reinvenção “desde baixo” no contexto da Globalização.
É se os dois primeiros governos
do PT foram marcados pelos bons ventos externos, por uma dinâmica favorável do
processo de globalização da economia aliado as manobras política de Lula que conseguiu realizar reformas não desprezíveis, ao final do segundo e no
interior do terceiro mandato, instala-se desestabilizações negativas relativas as
injunções da economia global somadas a um “despertar” de trabalhadores e uma
geração conectada, em um contexto de insatisfação generalizada com medidas que acentuam a
sensação de deterioração da qualidade de vida expressa na experiência de uso
dos serviços públicos oferecidos pelo Estado.
Os ventos históricos do Estado Nacional
parece encontrar ventanias globais não muito favoráveis. Ventanias, diga-se de
passagem, amplamente traduzida pela mídia de plantão como plena incompetência
das políticas nacionais, como se a inflação nacional fosse um fator
independente, autônomo em sua realização.
O
fato é que PT engendrou os atores que vão empunhar as armas para sua
dissolução. A opção social-democrata perdurou na Europa por “30
anos gloriosos” em parceria com o capital, mas nos últimos 30 anos tem se
desmantelado no mesmo ritmo de destruição do Estado de bem-estar social. No
Brasil com um governo semelhante a perspectiva socialdemocrata ( cunhado de
neodesenvolvimentismo por analistas ) me parece que não chegaremos a 15
gloriosos ( com otimismo ) seja pelas injunções externas ou por efervescências
internas. Ambos os casos não estão desvinculados a dinâmica mundial do
capitalismo, especialmente a partir de mudanças geradas após a crise na década
de 70, início da ofensiva neoliberal para transferir os custos de reprodução
social ao Estado, induzindo um tipo reforma estatal bem ajustada aos interesses
mercado global.
O PT Surfou
positivamente na dinâmica mundial, potencializou a economia interna, ampliou e
facilitou obtenção de crédito, criou políticas sociais com efeitos positivos
reduzindo a pobreza, e por consequência gerou uma “nova” classe média sou nova
classe trabalhadora ( a luta para definir a mudança na estrutura social
brasileira segue polêmica ). Agora, contudo, a crise do capitalismo que é
mundial - inicialmente tida como apenas uma “marolinha” quando deflagrada nos
EUA e impactara a Europa - cria as condições para que novos sujeitos
contestarem seus “criadores”.
O PT
certamente na sua militância com os movimento sociais realizaram muitas lutas,
negociações e conquistas ( como a redemocratização e indiretamente a
constituinte ), mas agora enquanto poder instituído esbaram nos limites da
legalidade, nos marcos de ação e negociação previamente estabelecidos.
Institucionalizou-se o PT e muitos outros movimentos sociais - como os
estudantis - ocorrendo incorporação massiva deles em um multiplicidade de
conselhos criados nos últimos anos. A burocracia tornou-se um peso
significativo, a relação com os novos movimentos sociais se mostrou rarefeita.
Suas dificuldades em lidas com as manifestações atuais revelam um pouco
dessas dimensões, obrigando o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad a admitir
as limitações para entendimento desse momento e propor uma nova pedagogia
entre Estado e sociedade, baseada em uma aprendizagem construída no calor do
movimento.
Reitero
que houve avanços certamente, mas as novas gerações não conseguem ver o
diferencial do PT em relação aos outros partidos da direita, alias esse
diferencial no atual cenário está mesmo deixando de existir, depois de anos o
processo de institucionalização é forte, a burocratização do partido é
significativa, as gerações mais jovens alem disso já tomaram “consciência
política” ou se incluíram no debate político sem muita memória de conquista
recentes e sob a égide do “príncipe eletrônico” que na última década
direcionou seus esforços contra o governo estabelecido, o que é natural, quem
não está no poder realizar críticas, mas também é verdade que informa
“verdades” tendenciosas, faz sensacionalismo, desqualifica sem análises mais
contundentes para desestabilizar o governo.
Acontece que
povo expresso sobretudo pelas novas gerações, não quer ser apenas
“objeto” de políticas públicos, não quer só aumento de renda e educação. O povo
quer converte-se em multidão, quer se sentir partícipe da mudança, quer
reconstruir por baixo outra democracia possível ! É Essa
participação ativa na mudança que atualiza as instituições retirando-as do
engessamento e modificando as formas de pensar e fazer política. Como diria
Bruno Cava, a composição social surgida no âmbito do lulismo não fica Assistindo
tudo parada, apenas consumindo ( tese catastrófica) . É mais do que isso,
é reinvenção de subjetividades, é resistência classista, é poder instituinte,
que antropofagiza as políticas verticais e as converte criativamente,
potencializando novas formas de resistir e existir.
É, esta
em causa o próprio modelo de desenvolvimento ( mundialmente desigual e
combinado ) responsável pela emergência da “Nova” classe média e da “geração
facebook”, são os ventos nacionais “desde baixo” reinventando as lutas
democráticas em um contexto de falência da política tradicional e da própria
democracia em Âmbito mundial.
terça-feira, 18 de junho de 2013
BREVES NOTAS SOBRE A INDIGNAÇÃO.
Acontece que momentos de crise são momentos de alargamento da percepção do mundo que nos rodeia, são esclarecedores das razões e causas de problemas estruturais, são por excelência desnaturalizantes do que Ianni denomina de “”relações, processos e estruturas de de dominação política e expropriação econômica”.
NOTA 3
Esse é o novo “palco da história” de que falava Ianni (1996), momento de afirmação da sociedade da mundial ou “modernidade-mundo”. Evento surpreendente de ruptura teórica-epistemológica que abala os quadros mentais estabelecidos: subverte as categorias referidas no tempo-espaço do Estado-Nação; desloca o “o lugar da política” reinventando-a; redefine as soberanias e hegemonias tanto quanto a democracia.
O espaço nacional revela-se apenas um elo do encadeamento global de redes de movimentos sociais que conectam suas aspirações e indignações contra a captura da democracia representativa pelo mercado; contra a falência teórica e prática da política tradicional ( seus partidos, eleições e lideranças ); contra a mercantilização da vida; contra a privatização dos bens públicos; contra o aumento e manutenção das contradições sociais expressos em desigualdades, pobrezas, fome, injustiças de toda ordem; contra a destruição em massa do meio ambiente caracterizado pela poluição do ar, rios, oceanos, terras; contra as monoculturas de pensamento e produção que aniquilam pluralidades, diversidades e diferenças; contra todas formas de dominação, exploração e controle do trabalho e da vida que aniquilam os direitos humanos e reduzem a liberdade humana a uma condição miserável; contra as formas de produzir e consumir que atentam contra a saúde humana; contra um modelo de “desenvolvimento” urbano insustentável que prioriza a circulação e acumulação do capital em detrimento da saúde e liberdade humana.
Esses são os pontos que motivam e inspiram através de experiências coletivas de ação, a globalização contra-hegemônica, a globalização "desde baixo" em contraposição à a globalização “pelo alto”, perversa, neoliberal.
É a globalização do comum face a globalização privada. É a globalização do poder biopolítico constituinte contestando a globalização instituída do biopoder.
NOTA 2
20 centavos foi o elemento catalizador, o pretexto para deflagração de sentimentos bloqueados, vontades negadas, desejos suprimidos, demandas não atendidas. Foi um impulso de negação das estruturas políticas e formas tradicionais de operá-la com simultânea afirmação afirmação da vontade de potência do multidão, insinuando outros valores, outra política. A resistência cotidiana individualizada converte-se e é potencializada em resistência plural de uma coletividade indignada, libertária, autodeterminada. É poder constituinte em movimento abalando o poder constituído!
NOTA 1
Nunca vi mobilização tão massiva no brasil!
Nunca vi os usuários do facebook tematizando e debatendo sem interrupções sobre um evento de caráter político.
A repercussão é teórica e prática simultaneamente.
Mobilizam-se calorosamente nostalgias e utopias. Os mais velhos rememoram o maio de 68 e o processo de redemocratização seja para inspirar os mais jovens ou para caracterizar o evento como uma "velha novidade". Os mais jovens de maneira um pouco confusa e sem muita precisão tateiam na ação e na reflexão um outro estado de coisas, uma sociedade mais libertária, democrática e justa, não possuem uma imagem perfeita desse "não lugar", mas já sabem o que não querem e tecem em rede as linhas gerais do porvir. Estaria havendo apenas um blefe em relação a significativas mudanças, ou ao contrário, estaríamos em um parto histórico, geracional, eminentemente revolucionário ? Ou nada disso, o evento ainda estaria envolta de nuvens nebulosas, com desdobramentos ainda não previstos, sendo impossível prever os próximos movimentos? Não se sabe, mas a disputa política sobre os significados desse evento estão em efervescência na rede.
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