terça-feira, 18 de junho de 2013

BREVES NOTAS SOBRE A INDIGNAÇÃO.




Acontece que momentos de crise são momentos de alargamento da percepção do mundo que nos rodeia, são esclarecedores das razões e causas de problemas estruturais, são por excelência desnaturalizantes do que Ianni denomina de “”relações, processos e estruturas de de dominação política e expropriação econômica”.


 NOTA 3


        Esse é o novo “palco da história” de que falava Ianni (1996), momento de afirmação da sociedade da mundial ou “modernidade-mundo”. Evento surpreendente de ruptura teórica-epistemológica que abala os quadros mentais estabelecidos: subverte as categorias referidas no tempo-espaço do Estado-Nação; desloca o “o lugar da política” reinventando-a; redefine as soberanias e hegemonias tanto quanto a democracia.

        O espaço nacional revela-se apenas um elo do encadeamento global de redes de movimentos sociais que conectam suas aspirações e indignações contra a captura da democracia representativa pelo mercado; contra a falência teórica e prática da política tradicional ( seus partidos, eleições e lideranças ); contra a mercantilização da vida; contra a privatização dos bens públicos; contra o aumento e manutenção das contradições sociais expressos em desigualdades, pobrezas, fome, injustiças de toda ordem; contra a destruição em massa do meio ambiente caracterizado pela poluição do ar, rios, oceanos, terras; contra as monoculturas de pensamento e produção que aniquilam pluralidades, diversidades e diferenças; contra todas formas de dominação, exploração e controle do trabalho e da vida que aniquilam os direitos humanos e reduzem a liberdade humana a uma condição miserável; contra as formas de produzir e consumir que atentam contra a saúde humana; contra um modelo de “desenvolvimento” urbano insustentável que prioriza a circulação e acumulação do capital em detrimento da saúde e liberdade humana.

         Esses são os pontos que motivam e inspiram através de experiências coletivas de ação, a globalização contra-hegemônica, a globalização "desde baixo" em contraposição à a globalização “pelo alto”, perversa, neoliberal. 

     É a globalização do comum face a globalização privada. É a globalização do poder biopolítico constituinte contestando a globalização instituída do biopoder.


NOTA 2

        20 centavos foi o elemento catalizador, o pretexto para deflagração de sentimentos bloqueados, vontades negadas, desejos suprimidos, demandas não atendidas. Foi um impulso de negação das estruturas políticas e formas tradicionais de operá-la com simultânea afirmação afirmação da vontade de potência do multidão, insinuando outros valores, outra política. A resistência cotidiana individualizada converte-se e é potencializada em resistência plural de uma coletividade indignada, libertária, autodeterminada. É poder constituinte em movimento abalando o poder constituído!


NOTA 1

Nunca vi mobilização tão massiva no brasil!


Nunca vi os usuários do facebook tematizando e debatendo sem interrupções sobre um evento de caráter político.

A repercussão é teórica e prática simultaneamente.

Mobilizam-se calorosamente nostalgias e utopias. Os mais velhos rememoram o maio de 68 e o processo de redemocratização seja para inspirar os mais jovens ou para caracterizar o evento como uma "velha novidade". Os mais jovens de maneira um pouco confusa e sem muita precisão tateiam na ação e na reflexão um outro estado de coisas, uma sociedade mais libertária, democrática e justa, não possuem uma imagem perfeita desse "não lugar", mas já sabem o que não querem e tecem em rede as linhas gerais do porvir. Estaria havendo apenas um blefe em relação a significativas mudanças, ou ao contrário, estaríamos em um parto histórico, geracional, eminentemente revolucionário ? Ou nada disso, o evento ainda estaria envolta de nuvens nebulosas, com desdobramentos ainda não previstos, sendo impossível prever os próximos movimentos? Não se sabe, mas a disputa política sobre os significados desse evento estão em efervescência  na rede.


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