terça-feira, 1 de dezembro de 2015

O Brasil não é um ilha: A cegueira da mídia e os limites do "nacionalismo metodológico"



     Tenho comentado sistematicamente em minhas intervenções públicas esse fato: O Brasil não é uma ilha. O tratam como um abstração diante do mundo, distante, isolado, quase um planeta marciano.

        Não se trata de, nesse breve comentário, evidenciar como diversas crises se articulam e potencializam-se em diferentes esferas e escalas (local, regional, nacional, mundial) mas de registrar que essa cegueira cognitiva reproduzida e ampliada cotidianamente pela Mídia hegemônica produz uma visão mesquinha do Brasil e dos Brasileiros; gera uma representação extremamente simplificada, polarizada e moralista da política nacional, reduzindo-a basicamente a um mar de lama e podridão que a tudo abarca e compromete, não sobra nada, a política em todas suas esferas e escalas é considerada corrupta, inútil e como elemento a ser eliminado como um tumor maligno.

    Simplesmente não percebem um mundo inteiro em crise, uma Europa em desintegração, o fim da relação amorosa entre democracia e capitalismo no globo, o colapso do modelo de desenvolvimento Estadunidense, a China em desaceleração econômica, enfim a crise do capitalismo enquanto modo de produção e civilização. Faz-se necessário relativizar o nacionalismo metodológico e suas explicações dos problemas nacionais. Nossa situação não é certamente resultado mecânico de um imperialismo, mas tampouco produto endógeno sem articulação com as teias político-econômicas de um mundo cada vez mais multipolarizado e em intenso processo de globalização (em suas dimensões de homogeneização e fragmentação).

    O fato é que estamos longe de ter o "privilégio" de estar em envoltos em múltiplas crises, de natureza econômica, financeira, política, ecológica produzidas unicamente em solo nacional. Longe de defender o governo ou a "política que está ai", trata-se de reconhecer a complexidade da conjuntura, discutirmos medidas menos medíocres para superação de nossos problemas a partir de um novo patamar do fazer/debater político.

    Mas eu me pergunto caros colegas, a quem interessa anular absolutamente o sentido da Grande Política à pequena política? A quem interessa transformar o espaço político em um deserto? A quem interessa anular a potencialidade política da multidão? A quem interesa reduzir a pó as instituições políticas? Quem irá ocupar esse espaço? Na política não existe espaço vazio e certamente o espaço já está sendo ocupado e não há indicios de que os "novos" sujeitos, grupos e instituições que passam a ocupá-lo vão reinveitar a política desde baixo, com um agenda progressista e democrática. Ideias e práticas conservadoras em momentos de crise ganham terreno para serem agenciadas pela renovação da pequena política travestida de "interessa nacional". 

    É necessário participar da batalha das ideias, fugir às polarizações políticas e mostrar sua complexidade, desmistificar meias-verdades, anular os moralismos e reconhecer as emergências em termos de movimentos, práticas e ideias alternativas que precisam urgentemente ganhar terreno no debate publico, sem esquecermos e invisibilizarmos movimentos e pautas tradicionais que continuam extremamentes importantes. Nada nasce do vazio. É indispensável articular o melhor tradição e reinventá-la dialeticamente a partir das inovações teóricas e práticas produzidas pelo momento histórco em que vivemos. 

    Dai que não podemos nos intimidar, recusar debate, nos afastar das ruas e das redes. Temos que disputar o sentido da liberdade, justiça e democracia a partir das implicações que representam as pautas - novas e tradicionais - como Reforma Agrária, Reforma Política, Reforma Urbana, Reforma Urbana e Garantia e afirmação dos direitos das minorias, subalternos, vítimas de violência, estigmas e preconceitos. 

    São agendas que longe de se excluirem se complementam reciprocamente no sentido de garantir ampliar e as liberdades coletivas e individuais em um contexto de reconhecimento social, étnico e de gênero, de distribuição justa de bens e riquezas socialmente produzidas, considerando a inclusao produtiva e democrática da população em um modelo de desenvolvimento em bases sustentáveis, que nao seja subordinado aos ditame do crescimento/consumo infinito e reconheça os limites ecológicos (dimensão biofísica) para garantir de fato desenvolvimento sustentável. 

O debate público em torno dessas pautas deveriam representam o conteúdo para renovação/construção da Política com P maíusculo. Construida sim a partir dos conflitos e das diferenças, mas sem ser reduzida ao período eleitoral, a conluios de gabinete, a disputa por cargos, ministérios e quinhões do poder. Seu horizonte seria a produção do Comum, entendido como a gestão/distribuição democrática dos recursos, bens, espaços e riquezas materiais e simbólica socialmente produzidas. Esse debate - vital para nosssa democracia - tem sido privilegiado na Mídia hegemônica meus caros?

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