sábado, 24 de janeiro de 2015

Agora é a vez da "década perdida" Europeia.

Parece que agora é a vez da "década perdida" Europeia. Arrogantes, perdidos em seus dogmas econômicos, não aprenderam lições históricas expressas na década perdida da América Latina. O preço dessa atitude é o "desenvolvimento do subdesenvolvimento" nas terras europeias, cuja maior expressão é o surgimento de "novos pobres", prolongamento de altas taxas de desemprego e aumento de violência, criminalidade, preconceitos etc..

Usam os mesmos "remédios" para resolver a crise: os planos de austeridade fiscal (realizados sob o mando e vigilância da troika; FMI, Banco central europeu e Comissão europeia) com a expectativa de recuperação da confiança do mercado financeiro. Não deu certo por aqui, não dará certo por lá. E, por incrível que pareça há indícios de que o mesmo "remédio" será mobilizado para equacionar a crise que se instala em solo Brasileiro. 

Certamente o contexto histórico, político e social é outro, mas não creio que os resultados serão diferentes caso o governo Brasileiro não mude o norte de suas atuais orientações de economia política. Como diria Cazuza, "eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades".

Se nossos irmãos afundarem mais intensamente, certamente os impactos serão mais severos por aqui, mas as opções econômicas mobilizadas nos últimos anos para resolver a crise não estão surtindo efeito, suas previsões economicistas falharam. Porque será? Como bem registrou Josef Stigletz "as previsões falharam, não porque os países da UE não aplicaram as políticas prescritas, mas porque os modelos sobre os quais essas políticas se basearam têm graves deficiências”. Como agravo, as democracias europeias estão longe de decidir sobre seus destinos econômicos, a troika prossegue "soberanamente" indicando as opções e soluções a serem colocadas em operação.

Ainda sobre tais políticas, vale mencionarmos o comentário de Tarso Genro: "Estas políticas(...)são apresentadas como se fossem políticas universais, “neutras”, verdadeira razão de estado e espada luminosa dos que defendem o interesse público. Em regra, são as preferidas por nove entre dez dos comentaristas econômicos da grande mídia, que não poupam críticas ao Estado “gastador”, à falta de sabedoria dos agentes públicos que defendem outras saídas. Mas o fazem sem abordar o debate de fundo: quais os resultados destas políticas? A quem ela beneficia efetivamente? De quem ela exige sacrifícios? E mais: quais as políticas de outra natureza que se opõem à dita “austeridade”?

Por fim, vale dizer que as crises atuais não são mais cíclicas à nível de mundo, em verdade, tornaram-se modo de ser do capitalismo contemporâneo; se distribuem no tempo e no espaço, se não está instalada aqui, está acolá e vice-versa, sempre combinada, interdependente. Sempre ativa em sua "destruição criativa": na espoliação e empobrecimento de povos e nações.

A reversão desse quadro de austeridade talvez comece a se modificar a partir de conquistas políticas que podem emergir da conquista eleitoral do "podemos" na Espanha e do "Syriza" na Grécia legitimados pela multidão de sujeitos precarizados que anseiam por mudanças estruturais nas "democraduras" instaladas em solo europeu que obedecem apenas a cartilha do capitalismo financeiro neoliberal. Que as forças vivas das sociedades europeias reorientem politicamente o caminho de suas nações para que as forças conservadoras e xenófobas não potencializam o fascismo em suas diversas faces.

E que os movimentos sociais e partidos progressistas brasileiros não cedam ao canto da sereia do mercado financeiro para aplicação de planos de austeridade e realizem de imediato forte pressão sobre  o Estado no sentido de bloquear medidas que certamente vão afetar -como sempre- os segmentos mais pobres e vulneráveis de nossa sociedade.