domingo, 3 de maio de 2015

O Brasil é de primeiro mundo para quem? De Masi confunde o pensamento crítico com pessimismo.

                De Masi já foi mais feliz em seus comentários e mais preciso em suas respostas. Nesta entrevista1 muita coisa que ela fala é contestável. Comento aqui rapidamente alguns pontos

         "Crise é algo transitório", certamente que é, mas é preciso dizer que a crise é transitória em termos,  quando vista por exemplo de dentro dos espaços nacionais, mas tudo muda quando vista sob outro enfoque, pois o sistema capitalista em seu conjunto sempre está em crise e processo de reestruturação, nesse sentido a crise é um elemento estrutural e permanente do sistema. Como diria Harvey, as crises são momentos de reconfiguração dos termos da acumulação em decorrência da baixa taxa de lucratividade, "crises servem para racionalizar a irracionalidade do capitalismo" e elas nunca são resolvidas, apenas "deslocadas no tempo e no espaço".


Que riqueza mesmo que FHC criou?? Privatizações a preço de banana? Não vamos louvar eternamente a estabilização propiciada pelo plano real né..

Aumento do poder aquisitivo dos pobres não significa distribuição de riqueza! Bolsa família não significa distribuição de riqueza! Esses gastos saíram do orçamento anual do Estado, uma migalha por sinal. Distribuição de riqueza se faz alterando a estrutura agrária com a reforma agrária, se faz realizando reforma tributária de caráter progressivo, se faz com reforma política anulando o poder econômica sobre a política..

Acho que PIB não é e nunca foi o melhor indicador para medir o "desenvolvimento" de um país, especialmente os países que foram colonizados, sofreram o impacto do imperialismo e tiveram uma industrialização com pesados investimentos estrangeiros. E grande coisa sermos o quinto em produção industrial quando a maioria dos países "desenvolvidos" estão lucrando em cima da "propriedade intelectual" (patentes), quando o setor terciário já é muito mais lucrativos em diversos países e ocupa posição central na produção de riqueza e sem contar que a produção industrial já não emprega como nas décadas precedentes. E vale lembrar boa parte dessas "industrias" são de empresas multinacionais, sua pátria é outra, mandam seus lucros para suas matrizes e se elas estão no Brasil é porque houve um processo de desterritorialização do capital buscando pastos novos com mão de obra barata para explorar..

Essas louvações de "Brasil potência", "Brasil Maior" etc.. devem sempre ser relativizadas, se por um lado houve avanços nas últimas décadas em várias direções é sempre importante assinalar as limitações desses avanços e os retrocessos em outros campos.

O Brasil é de primeiro mundo para quem? De Masi confunde o pensamento crítico com pessimismo. Certamente o Brasil avançou, mas não vamos confundir alhos com bugalhos; bolsa família com distribuição de renda. Industria com qualidade de vida, PIB com Desenvolvimento, diminuição da pobreza com diminuição da desigualdade, exportação de commodities com soberania econômica. Isso é o que acontece quando se tenta "medir" ou comparar as transformações na América Latina a partir de parâmetros, modelos e trajetórias dos países Europeus. Não tem muita coisa de louvável em ascender nessa escala "evolucionista" rumo a um suposto desenvolvimento que hoje se mostra ilusório, visto que as grandes conquistas desses países hoje se encontram em desestruturação, cadê o pleno emprego e o Estado do bem-estar social, a eliminação da pobreza e da desigualdade? Estamos seguindo um modelo que já mostrou suas limitações, que destrói a natureza, não resolve o problema da concentração de poder e renda etc..

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