domingo, 26 de outubro de 2014

O PT habita nas novas gerações: Capacidade pouco vale sem oportunidade.



Os filhos do Lulismo na era do globalismo não experimentaram a vivência da destituição e da privação aguda que que caracterizam a vida de mais de 30 milhões de brasileiros há cerca de uma década. Esse cenário, em boa medida, desapareceu e agora os "filhos" não apenas comem, se vestem e escrevem  como  acessam a internet, se informam e fazem ensino superior. Agora querem mais, e é bom que assim seja.

 Ótimo que não tenhamos mais fomes coletivas e violação das liberdades políticas básicas. Seria prudente também que essas novas gerações, filhos de uma certa conjuntura histórica parassem alguns minutos para refletirem, reorientando seu olhar para um passado não muito distante e constatar que as condições sociais, políticas e culturais legadas desse passado foi o que lhes permitiu a possibilidade de olhar o atual governo de maneira mais crítica. Foi um legado de oportunidades, de justiça social e ampliação das liberdades. Não peço votos para o PT, mas sejamos críticos também em relação a esse legado, a saída do Brasil do Mapa da Fome da ONU é uma expressão positiva desse passado. O significado disso ainda será bem avaliado futuramente.

Sim. A trajetória do PT está repleta de erros, desvios, casos de corrupção etc.. Mas me digam um governo ou partido que jamais cometeu erros. Não! Não quero justificar esses erros, são imperdoáveis. Assim como será imperdoável não reconhecer a transformação social que ocorreu em seu governo, expressa em termos de mobilidade social, por exemplo. Como bem registra SEN (199,p.10)

Eu só uma grão de areia desse desenvolvimento. Eu sou uma potencialidade ativada, Eu sou resultado de desbloqueios de privações. Eu me tornei cidadão e agente certamente por algum esforço individual, mas principalmente pelas condições sociais que ampliaram minhas escolhas e oportunidades. Eu sou crítico do lulismo e do Petismo, mas igualmente reconheço a paternidade da minha trajetória. Apesar das limitações, da escola primária ao doutorado, reconheço o solo histórico de oportunidades sobre o qual eu piso. Minha vaga na universidade não foi apenas mérito, foi resultado da democratização do acesso ao ensino superior, do aumento de vagas e universidades. Minha primeira iniciação científica, assim como minhas bolsas de Mestrado e Doutorado, não derivaram de simples mérito, foi resultado da criação de agências de fomento à pesquisa, do aumento dos recursos e ampliação do número de bolsas. Não fosse tais bolsas certamente meu futuro seria outro assim como minhas ambições pessoais. Reconheço, portanto, um vínculo indissociável entre minha trajetória individual e a trajetória política de ampliação de oportunidades ocorridas na última década.

Olhem suas trajetórias por essa lente, deixem a meritocracia de lado por um momento e reconheçam que o indivíduo faz história, mas a faz sob condições e oportunidades legadas pelo passado. Certamente o governo do PT não fundou o Brasil e criou “o país do futuro” mas inegavelmente redefiniu as condições de vida e trabalho que vão permitir a chegada mais prematura desse futuro. O futuro não se faz por si e tenho certeza que sua construção vai contar com uma contribuição generosa das transformações antropológicas incorporadas nas novas gerações. Uma revolução subjetiva ocorreu e sua certidão de nascimento não foi registrada. Eu já comecei a digitá-la!

  

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