Os filhos do Lulismo na era
do globalismo não experimentaram a vivência da destituição e da privação aguda
que que caracterizam a vida de mais de 30 milhões de brasileiros há cerca de
uma década. Esse cenário, em boa medida, desapareceu e agora os "filhos"
não apenas comem, se vestem e escrevem
como acessam a internet, se
informam e fazem ensino superior. Agora querem mais, e é bom que assim seja.
Ótimo que não tenhamos mais fomes coletivas e
violação das liberdades políticas básicas. Seria prudente também que essas
novas gerações, filhos de uma certa conjuntura histórica parassem alguns
minutos para refletirem, reorientando seu olhar para um passado não muito distante e constatar que
as condições sociais, políticas e culturais legadas desse passado foi o que
lhes permitiu a possibilidade de olhar o atual governo de maneira mais crítica. Foi um
legado de oportunidades, de justiça social e ampliação das liberdades. Não peço
votos para o PT, mas sejamos críticos também em relação a esse legado, a saída
do Brasil do Mapa da Fome da ONU é uma expressão positiva desse passado. O
significado disso ainda será bem avaliado futuramente.
Sim. A trajetória do PT
está repleta de erros, desvios, casos de corrupção etc.. Mas me digam um
governo ou partido que jamais cometeu erros. Não! Não quero justificar esses
erros, são imperdoáveis. Assim como será imperdoável não reconhecer a
transformação social que ocorreu em seu governo, expressa em termos de
mobilidade social, por exemplo. Como bem registra SEN (199,p.10)
Eu só uma grão de areia
desse desenvolvimento. Eu sou uma potencialidade ativada, Eu sou resultado de
desbloqueios de privações. Eu me tornei cidadão e agente certamente por algum
esforço individual, mas principalmente pelas condições sociais que ampliaram
minhas escolhas e oportunidades. Eu sou crítico do lulismo e do Petismo, mas
igualmente reconheço a paternidade da minha trajetória. Apesar das limitações,
da escola primária ao doutorado, reconheço o solo histórico de oportunidades
sobre o qual eu piso. Minha vaga na universidade não foi apenas mérito, foi
resultado da democratização do acesso ao ensino superior, do aumento de vagas e
universidades. Minha primeira iniciação científica, assim como minhas bolsas de
Mestrado e Doutorado, não derivaram de simples mérito, foi resultado da criação
de agências de fomento à pesquisa, do aumento dos recursos e ampliação do número
de bolsas. Não fosse tais bolsas certamente meu futuro seria outro assim como
minhas ambições pessoais. Reconheço, portanto, um vínculo indissociável entre
minha trajetória individual e a trajetória política de ampliação de
oportunidades ocorridas na última década.
Olhem suas trajetórias por
essa lente, deixem a meritocracia de lado por um momento e reconheçam que o
indivíduo faz história, mas a faz sob condições e oportunidades legadas pelo
passado. Certamente o governo do PT não fundou o Brasil e criou “o país do
futuro” mas inegavelmente redefiniu as condições de vida e trabalho que vão
permitir a chegada mais prematura desse futuro. O futuro não se faz por si e
tenho certeza que sua construção vai contar com uma contribuição generosa das
transformações antropológicas incorporadas nas novas gerações. Uma revolução
subjetiva ocorreu e sua certidão de nascimento não foi registrada. Eu já
comecei a digitá-la!
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