A dialética
do poder entre PT e PSDB lembra a noção de equilíbrio de contrários de Gilberto
Freire, uma dialética sem síntese, baseada em uma relação tensa, mas que sempre
se harmoniza através da justaposição dos contrários, da anulação das
diferenças. É a reformulação da Casa Grande & Senzala em outros termos, é a
democracia eleitoral pacífica; democracia dos consensos, alianças, conchavos,
governabilidade. Nesta democracia os conflitos, as resistências e dissensos
seriam apenas aparentes, resultados imprevistos de um povo emotivo e apaixonado que gosta de brigar, mas logo em seguida se reconcilia e vai comer pizza com seu objeto de crítica ou de oposição.
Nessa narrativa ou "invenção! não
seria importante a marcação de diferença, isso não existiria aqui, seríamos todos iguais, posto que brigaríamos pelos mesmos objetivos, as divergências seriam de "superfície!. Assim como a “democracia racial”
afirmou a positividade da relação entre negros e brancos entre nós, da mesma
forma a polarização PTXPSDB representaria a positividade das relações entre as
classes sociais.
Ora, é preciso dizer que PT-PSDB
parecem irmãos siameses, um não respira sem outro, a derrota absoluta de um automaticamente
anularia as condições de vida do outro. A dependência é tanta que não revezam
apenas o poder, o discurso, as críticas e as práticas também sofrem rotações e
complementos, tanto é que seus governos vistos em perspectiva histórica se
complementam. Um segue e potencializa a
política econômica do outro. Este promete “aperfeiçoar “ as políticas sociais
daquele. Bestas somos nós que muitas
vezes brigamos, xingamos e nos desqualificamos reciprocamente para manutenção do mesmo sistema político e seus irmãos
siameses. Assim como socialismo não faz sentido sem capitalismo, da mesma forma
PT não faz sentido sem PSDB, ambos se
construíram como polos antagônicos, mas que com o passar do tempo se tornam
complementares e quiçá poderão desaparecer juntos um dia. Por enquanto, ambos prosseguem inexoráveis, afastando ou incorporando qualquer alternativa ou brecha democrática que coloque em risco a confortável dicotomia.
Outrora,
a afirmação ideológica da democracia
racial (síntese harmônica entre raças) contribuiu , de um lado,para naturalizar
relações de dominação (relações de poder) e exploração (relações econômicas) e,
de outro, permitiu uma costura
modernizante para construção de um Estado-Nação homogêneo em que todos se
sentiriam pertencidos, procedimento que se fez capturando politicamente
elementos de várias expressões culturais simultaneamente à anulação de diferenças, diversidades, epistemes de grupos
e coletividades. A nação fora “inventada”, o mito erigido, mas longe de um país
homogêneo e sem conflitos o que existe é
uma diferenciação pelos quatros cantos do país e com elas lutas por direitos e
reconhecimentos.
Hoje a afirmação ideológica da única dialética possível (PTXPSDB) igualmente naturaliza e legitima os vícios, desigualdades, hierarquias e consensos perversos que estruturam o sistema político e sua democracia representativa com poucos partidos hegemônicos. Fazem, produzem, inventam um imaginário político no qual não há outra política possível para além dessa polarização, quando na realidade o devir-político é muito mais rico, potente e diversificado do que essa vã binaridade crê. Muitas reinvenções contra-hegemônicas estão ativas e resistentes, outros modos de pensar, fazer e compor as diversidades nacionais são possíveis.
Hoje a afirmação ideológica da única dialética possível (PTXPSDB) igualmente naturaliza e legitima os vícios, desigualdades, hierarquias e consensos perversos que estruturam o sistema político e sua democracia representativa com poucos partidos hegemônicos. Fazem, produzem, inventam um imaginário político no qual não há outra política possível para além dessa polarização, quando na realidade o devir-político é muito mais rico, potente e diversificado do que essa vã binaridade crê. Muitas reinvenções contra-hegemônicas estão ativas e resistentes, outros modos de pensar, fazer e compor as diversidades nacionais são possíveis.
Sim!
Essa polarização reflete também o modo como a identidade nacional fora
construída, como a multiplicidade e a riqueza brasileira fora reduzida,
silenciada e traduzida ideologicamente em pares binários: Casa grande &
Senzala, Sobrados e Mucambos , Elite e povo, Café com leite, casa e rua, Estado
e Mercado. Esta última polarização é a invenção-mor que conduz e simplifica o debate político em
todo o mundo, como se não fossem faces da mesma moeda. Se é pra de afirmar se
esquerda, que seja se afirmando através lutas e resistência contra os privilégios e ,
portanto, contra as injustiças e desigualdades, esteja quem esteja no poder,
inclusive eu.
Não se trata de negar as conquistas do PT e tampouco evidenciar que ele é igual ao PSDB (este texto registra diferenças pertinentes:aqui). Trata-se apenas de enfatizar que ambos constituíram-se reciprocamente e que tal constituição tem conexão com lógicas e representações que "inventaram" a nação e o pertencimento ao Brasil.
Não se trata de negar as conquistas do PT e tampouco evidenciar que ele é igual ao PSDB (este texto registra diferenças pertinentes:aqui). Trata-se apenas de enfatizar que ambos constituíram-se reciprocamente e que tal constituição tem conexão com lógicas e representações que "inventaram" a nação e o pertencimento ao Brasil.
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