E lá se vai um
ano, temporalidade potente, transformadora. Junho de 2013 funcionou como uma
flecha no tempo; entre utopias e nostalgias que expressaram o evento,alargou-se
o presente com diferentes e múltiplos devires
insuspeitados. O presente antecipou realizações e debates Essa constelação monstruosa de manifestações
colocou o “Brasil Maior” em perspectiva, suspensão.
Certamente que
as manifestações em si são prenhes de intenções, sentidos, transformações
individuais e coletivas, afinal, uma alquimia dos corpos se realizou quando os
mesmos se tocaram, tensionaram, dialogaram em suas diferenças para constituição
de um “monstro selvagem”, rebelde, inominável, quase irracional.
É precisamente para dar conta
dessa anomalia complexa e não linear que muitos se propuseram a codificá-la,
dar-lhes nome, sentido, direção, lógica.
Narrativas
foram construídas para decifrar a esfinge em movimento, é sobre algumas delas
que me deterei nos próximos textos; colocando-as em diálogo convergente ou em
fricção dialógica, trata-se de explicitar os dilemas e problemas do Brasil
contemporâneo.
Intelectuais, acadêmicos e pessoas comuns
pensaram substantivamente nos desdobramentos do evento de junho; A produção
teórica, analítica, opinativa em mídias tradicionais e alternativas, blogs,
revistas ( com edições especiais e dossiês ) e livros foi gigantesca,
evidenciando a diversidade de explicações e representações sobre o evento.
E mais, explicitou as fragilidades, limitações e esforços de quadros conceituais
tradicionais em apreender e codificar o fenômeno. Ao mesmo tempo, criativas e
inovadoras perspectivas de análise ganharam densidade e ocuparam um lugar que
estava órfão de imaginação teórica e analítica.
Poderíamos
afirmar que em um pequeno espaço de tempo se realizou uma espécie de mega
reflexão sobre a nação vinda de todas as áreas, pessoas e direções; foi uma
efervescência que tirou parte da intelligentsia da letargia e do “silêncio” e,
além disso, concedeu oportunidade para
outsiders disputarem os sentidos e narrativas apropriadas para o evento em
questão. Talvez estejamos vivendo um momento de deslegitimação de certos
paradigmas explicativos e legitimação de novos modelos de apreensão da
realidade. O momento de crise serviu apenas para acelerar mudanças em curso.
Para
adiantar, o capítulo central do diálogo dessas narrativas refere-se a uma fricção entre, de um lado, as redes
colonizadas dos poderes constituídos do
Estado e do capital e, de outro, a afirmação constituinte de uma composição social criativa, potente,
rebelde, múltipla, horizontal e auto-organizada. Uma multidão em extâse,
pulsando emergentes subjetividades, desafiando e resistindo as técnicas de poder,
controle e captura da ordem esta(do)belecida.
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