quinta-feira, 12 de junho de 2014

De Junho em Junho: O Brasil visto pelo debate em torno das "Copa" das manifestações.

E lá se vai um ano, temporalidade potente, transformadora. Junho de 2013 funcionou como uma flecha no tempo; entre utopias e nostalgias que expressaram o evento,alargou-se o presente com  diferentes e múltiplos devires insuspeitados. O presente antecipou realizações e debates  Essa constelação monstruosa de manifestações colocou o “Brasil Maior” em perspectiva, suspensão.
Certamente que as manifestações em si são prenhes de intenções, sentidos, transformações individuais e coletivas, afinal, uma alquimia dos corpos se realizou quando os mesmos se tocaram, tensionaram, dialogaram em suas diferenças para constituição de um “monstro selvagem”, rebelde, inominável, quase irracional.
É precisamente para dar conta dessa anomalia complexa e não linear que muitos se propuseram a codificá-la, dar-lhes nome, sentido, direção, lógica.
Narrativas foram construídas para decifrar a esfinge em movimento, é sobre algumas delas que me deterei nos próximos textos; colocando-as em diálogo convergente ou em fricção dialógica, trata-se de explicitar os dilemas e problemas do Brasil contemporâneo.
 2013, “o ano que não acabou”, sem sombra de dúvidas, já constitui um marco importante da história política brasileira. Não da política em seus moldes tradicionais mas, sobretudo, da política que emergiu, se explicitou, ganhou densidade em sua articulação entre redes e ruas. Essa outra política que abalou o poder constituído.
 Igualmente poderíamos afirmar que Junho de 2013 representou um forte impacto, não apenas para o poder e a política estabelecida, mas também pra as representações coletivas , quadros teóricos e cognições afins a elas relacionadas.
 Intelectuais, acadêmicos e pessoas comuns pensaram substantivamente nos desdobramentos do evento de junho; A produção teórica, analítica, opinativa em mídias tradicionais e alternativas, blogs, revistas ( com edições especiais e dossiês ) e livros foi gigantesca, evidenciando a diversidade de explicações e representações sobre o evento.
 E mais, explicitou as fragilidades,  limitações e esforços de quadros conceituais tradicionais em apreender e codificar o fenômeno. Ao mesmo tempo, criativas e inovadoras perspectivas de análise ganharam densidade e ocuparam um lugar que estava órfão de imaginação teórica e analítica.
Poderíamos afirmar que em um pequeno espaço de tempo se realizou uma espécie de mega reflexão sobre a nação vinda de todas as áreas, pessoas e direções; foi uma efervescência que tirou parte da intelligentsia da letargia e do “silêncio” e, além disso,  concedeu oportunidade para outsiders disputarem os sentidos e narrativas apropriadas para o evento em questão. Talvez estejamos vivendo um momento de deslegitimação de certos paradigmas explicativos e legitimação de novos modelos de apreensão da realidade. O momento de crise serviu apenas para acelerar mudanças em curso.
            Para adiantar, o capítulo central do diálogo dessas narrativas refere-se a  uma fricção entre, de um lado, as redes colonizadas dos poderes constituídos do  Estado e do capital e, de outro, a afirmação constituinte  de uma composição social criativa, potente, rebelde, múltipla, horizontal e auto-organizada. Uma multidão em extâse, pulsando emergentes subjetividades, desafiando  e resistindo as técnicas de poder, controle  e captura da ordem esta(do)belecida.


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